O sino toca
Sento-me em zazen
Quem senta-se em zazen?
Eu
Quem sou eu?
O dicionário explica que Ser vem de identidade.
É o conjunto de atributos que caracterizam alguma pessoa ou coisa,
Dentre eles o nome.
Meu nome.
Apego ao nome.
De repente me torno zen budista e, por isso,
Recebo um novo nome.
Sem escolher, sem opinar, sem saber com antecedência…
Simplesmente:
“A partir de agora, seu nome do Darma será “Fulano San”.
Então, o que é um nome?
Para que apegar-se?
Tudo muda. Tudo passa.
Impermanência… até mesmo no nome.
Assim sendo, enquanto identidade, não sou nada.
Me consolo pensando que sou a manifestação do agora,
Como se o agora,
O presente, fosse algo fixo.
Mas na realidade,
O presente também é uma ilusão.
O que de fato existe é o fluir, o eterno transcorrer do tempo no infinito.
E nessa fluidez infinita,
Poderia eu me considerar uma fração desse tempo?
Não. Não há ponto fixo no tempo.
Logo, enquanto manifestação temporal, não sou nada.
Aí me lembro das funções que a vida desempenha no corpo que chamo de meu.
Profissão, estado civil, religião…
Meras convenções que passaram a existir a tão pouco tempo e,
Certamente, em pouco tempo, serão extintas, substituídas…
Tudo passageiro…
Ah, mas sou um ser humano.
O que é isso para além de um nome? Uma definição?
Quero definir tudo.
Entender dando nomes.
Mas afinal, do que é que os nomes dão conta?
Sofrimento é um nome.
Causa é um nome.
Nirvana, outro nome.
Vida, nome.
Morte, nome.
Quando dou nomes, separo.
Nome, identidade, nada.
Mas o que é o nada?
Nada é zazen.
Zazen é não fazer nada. É ser nada.
Zazen é esquecer-se de si.
Ensina Mestre Dogen.
Esquecer de si é estar uno com todos os seres.
Estar uno com tudo é ser tudo.
Então, ser nada para ser tudo?
De repente percebo que tudo isso são pensamentos passando pela mente.
Deixo passar.
Volto a atenção para a respiração.
Pernas cruzadas.
Coluna ereta.
Olhos na horizontal.
Nariz na vertical.
Mão esquerda sobre a mão direita.
Polegares se tocando levemente…
Zazen
Poema de Leandro Shosan, Zendo Curitiba, Soto Zen.