Vida Monástica com Monge Giuliano Joken

 

Nesta edição tivemos o prazer em entrevistar o jovem monge Giuliano Joken, da Soto shu, Sogo Kenkyu Center (Centro de pesquisas e estudos da Soto shu), que nos contou um pouco de sua trajetória de sua vida monástica.

 

Monge Joken, poderia nos contar um pouco sobre o seu primeiro contato com o Zen Budismo e a sua vida monástica hoje no Japão?

Monge Joken: Meu contato com o Budismo foi logo muito cedo. Comecei a prática do Zen de fato aos 14, 15 anos de idade, e foi no templo Busshinji, no Bairro da Liberdade, em São Paulo. Mas o meu primeiro contato com o templo Busshinji foi aos 10 anos de idade. Aos 10 anos comecei a praticar arte marcial, e o grupo praticava no salão do templo Busshinji. Na época não havia o prédio ao fundo do templo. Por uma série de questões, esse grupo mudou de lugar, e me afastei do templo Busshinji. Aos 14 anos, comecei a praticar taiko, e voltei com meus amigos a treinar no Templo Busshinji. Mas devido ao barulho dos instrumentos, dos tambores, a vizinhança começou a reclamar, e então o grupo teve que mudar o local dos ensaios, e pela segunda vez me afastei do templo Busshinji. Então foi nesse mesmo ano, no final do ano, um amigo me convidou para fazer meditação; quando cheguei no local, o local de meditação era também no templo Busshinji. Eu tive esses três encontros com o templo, assim… não teve como fugir (risos). Fui a primeira vez com esse meu amigo, depois uma segunda vez fomos juntos novamente, na terceira vez já fui sozinho e na quarta, quinta, e assim fui indo, sozinho praticando. Quando me dei conta, eu estava com os meus 16, 17. Com essa idade, junto dos mais velhos, de 40, 50 e 60 anos, estudando os textos e eu com eles.

 

A Ordenação

Fiz o jukai aos 19 anos de idade, tokudo aos 21 anos. Fiz o tokudo em 31 de março de 2012. E no final daquele ano, em novembro, com 22 anos, eu vim para o Japão pela primeira vez. O primeiro mosteiro no qual fiquei foi Kasuisai, fica na província Shizuoka. Fiquei 1 ano e meio treinando lá, quando resolvi voltar para o Brasil. Na época não tinha a intenção de ser monge, como é que eu posso dizer? Cem por cento. Não era disso que eu queria viver, digamos assim. Mas resolvi voltar, eu queria ainda estudar um pouco mais, queria trabalhar com o que tinha estudado. Eu me formei em design gráfico na faculdade, também estudei fotografia, trabalhei com fotografia desde o começo da faculdade até voltar para o Brasil. Trabalhei com fotografia. E voltei para Brasil.

 

A volta ao Brasil

Fiquei mais ou menos dois anos. Vim depois de me formar, me formei em agosto, e vim em novembro para o Japão pela primeira vez. Fiquei um ano e meio aqui treinando no mosteiro e voltei para o Brasil. Assim que eu volto para o Brasil eu tinha a intenção de trabalhar na minha área de design, fotografia e acabei indo trabalhar para uma editora, na qual eu trabalhava editando mangás, que eram traduzidos, e fazíamos a letragem, no lugar dos balões, fazendo as onomatopeias, às vezes tinha que redesenhar algumas coisas. Fiquei mais ou menos uns dez meses trabalhando na editora, e nos finais de semana eu atuava no Busshinji, nas cerimônias e tudo. Na época, era um lugar bastante atarefado, tinha bastante atividade. E eu acabava dando cada vez mais atenção para o templo. Quando eu percebi, eu já tinha deixado a editora para ficar cem por cento no Busshinji. E passei a morar num quartinho alugado próximo ao templo e disponibilizado pelo templo.

 

Dedicação Integral aos serviços monásticos

Com isso, eu fiquei trabalhando no Templo Busshinji sete dias por semana, das cinco da manhã as oito, nove da noite. De domingo a domingo. Eu estava nesse ritmo até que tive a oportunidade de voltar para Japão. Me convidaram para voltar ao Japão, no mosteiro de Sojiji, que é um dos nossos mosteiros matrizes da Soto. Esse momento ocorreu numa viagem que fiz ao Paraguai, para uma cerimônia de inauguração de um templo. Isso foi logo depois do Rohatsu Sesshin, em dezembro. Veio uma comitiva de monges importantes do Japão para ajudar nessa cerimônia, e para participar da cerimônia. Eu e o Tahara San, o monge que está no Busshinji, fomos juntos ao Paraguai de Ônibus. Carregando toda a bagagem das estátuas, dos equipamentos, instrumentos e tudo.

 

O sequestro do ônibus

No meio do caminho, no meio da noite, nosso ônibus foi sequestrado por um grupo de assaltantes, todos muito bem armados e nos levaram de ônibus para meio do milharal, tomaram os nossos celulares, carteira, bagagem de mão, tudo. Quando eu percebi que estávamos no meio do milharal, eu pensei comigo, é o fim! Aqui no meio do milharal! (Risos). No final das contas deu tudo certo. Todas as coisas que tínhamos levado de doação para o templo, ninguém tocou em nada. Conseguimos fazer tudo como planejado.

Cerimônia de Hossenshiki em Sojiji com Egawa Zenji.

 

O convite

Foi nesse evento, no Paraguai, quando nos encontramos com a comitiva que veio do Japão, o vice Abade do mosteiro de Sojiji, ele me convidou para voltar para Japão, para treinar no mosteiro de Sojiji. Isso foi em dezembro, então no começo de março eu já estava embarcando para Japão pela segunda vez. Fiquei quatro anos praticando, tive a oportunidade de fazer uma série de experiências muito interessantes para minha prática e para minha jornada. Eu tive a oportunidade de ser o primeiro estrangeiro a receber uma bolsa de três meses para estudar em alguns templos da Soto na Europa. Também fui o primeiro estrangeiro a assumir o cargo de sushô, Monge Líder num dos templos matrizes da Soto. Também foi a primeira vez que isso aconteceu, parece. Eu terminei minha prática, o meu período de treinamento, em Sojiji, em 2020, no final de março. E no começo de abril eu fui admitido pelo Centro de Estudo de Pesquisas e Estudos Budistas da Soto aqui no Japão. Também sou provavelmente o primeiro estrangeiro a ter essa oportunidade. E é onde eu estou agora. Estou no segundo ano, tenho mais um ano de bolsa, então por volta de março do ano que vem, em 2023 eu devo terminar esse período de três anos de estudos.

 

Entrevista realizada por Elaine Kôhô光法. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

 

 

 

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