Veganismo: por compaixão a todos os seres
Na última década muito se fala sobre veganismo; o acrescente acesso às redes sociais pode ser uma das causas da difusão dessa ideologia na sociedade contemporânea. Apesar do número de veganos e vegetarianos ter crescido exponencialmente no mundo nos últimos anos, muitos ainda possuem dúvidas, receios e até aversão a esse estilo de vida, o que é compreensível, já que, apesar de existir diversas informações e fontes seguras a respeito, não são todos que sabem por onde começar, ou simplesmente ainda não estão preparados para olhar o veganismo sob uma outra perspectiva.
Com intuito de aclarar, ao menos um pouco, esse modo de vida e a sua relação com o Budismo, nesta edição, falaremos sobre essa prática que está muito além da alimentação.
Segundo a The Vegan Society, da Inglaterra, a mais antiga entidade vegana do mundo, o veganismo define-se da seguinte forma: “O veganismo é uma forma de viver que busca excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração e de crueldade contra animais, seja para a alimentação, para o vestuário ou para qualquer outra finalidade. Dos veganos junk food aos veganos crudívoros – e todos mais entre eles – há uma versão do veganismo para todos os gostos. No entanto, uma coisa que todos nós temos em comum é uma dieta baseada em vegetais, livre de todos os alimentos de origem animal, como: carne, laticínios, ovos e mel, bem como produtos como o couro e qualquer produto testado em animais.”
Como diz na definição, ser vegano não se baseia somente na alimentação estritamente vegetariana, mas no olhar às diferentes formas de crueldade impostas aos animais. Veganos acreditam na ética aos animais, sendo está um dos principais fundamentos dessa ideologia. O seria essa ética? Consiste em saber que um ser sensciente tem direito à vida, assim como nós humanos; tem direito a não ser explorado; torturado, uma vez que esses seres são capazes de sofrer e sentir contentamento, sentem medo e expressam gratidão. Isso está muito além dos nossos pets; porcos, vacas, galinhas, etc., todos estes são capazes de sentir dor e possuem consciência sobre suas próprias vidas, desta forma, todos os animais possuem valor próprio, devem ser considerados como fim em si mesmos e não como objetos para satisfação humana.
A exploração animal não impacta somente na vida dos animais, mas estende-se a vida humana também. Conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT), “os casos de trabalho escravo têm sido encontrados principalmente na pecuária (80% dos casos”. Sem contar os acidentes de trabalho e transtornos psicológicos desencadeados por quem atua diretamente no abate de animais.
Se considerarmos também as questões ambientais, podemos observar que o agronegócio é um dos principais motivos de desmatamento atualmente. Aproximadamente 70% da terra desmatada da Amazônia é usada como pasto, e uma grande parte do restante é coberta por plantações cultivadas para produção de ração para os animais que serão mortos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o setor de produção animal é um dos maiores responsáveis pelos mais sérios problemas ambientais. Sabe-se que são utilizados entre 10 e 20 mil litros de água para produzir apenas 1 Kg de carne bovina, desta forma, nossos esforços para redução de consumo de água em nosso cotidiano tornam-se, mesmo que válidos, ínfimos.
Podemos olhar o veganismo por vários aspectos, seja pela ética aos animais, pela saúde que uma alimentação vegetariana proporciona, por pensarmos conscientemente no meio ambiente, entretanto, sob a ótica budista podemos olhar o veganismo como a ampliação da nossa compaixão.
Não existe no Budismo nenhuma regra que dita aos seus praticantes o que devem comer, na verdade, não há nenhuma regra que obriga ninguém a nada, cada um tem a liberdade de agir conforme seu próprio critério. Mas existe no Budismo os Preceitos, que são guias para mostrar-nos um caminho que possamos trilhar causando menos sofrimento aos outros e a nós mesmos. Além disso, acreditamos no karma, que age por meio da ação e consequência; todas as nossas ações, sejam boas ou não, geram consequências que ficarão marcadas em nosso karma, que o modificarão de acordo com a ação.
Nesse sentido, podemos repensar a maneira como convivemos com todos os seres sencientes, sejam humanos ou animais, a fim de estendermos nossa compaixão além do nosso próprio ciclo, da nossa zona de conforto. Ao pensarmos e agirmos no mundo com o propósito de causarmos menos sofrimento possível aos outros seres, também causaremos menos sofrimento a nós mesmos, não somente pelas consequências marcadas em nosso karma, mas também por estarmos todos interligados, de sermos interdependentes, pois no final de tudo não são os animais que sofrem, somos nós mesmos, considerando o conceito de interdependência, não há separação entre nós e eles, não existe eu e você, existe o todo.
Para aqueles que desejam dar o primeiro passo e gostariam de conhecer mais sobre o veganismo, deixamos aqui algumas sugestões de documentários e também receitas estritamente vegetarianas, pois nossa alimentação pode ser bem ampla e deliciosa, além de compassiva.
Texto de Débora Muccillo. Vegana há 7 anos. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
Documentários
- A Engrenagem. Produzido pelo Instituto Nina Rosa. Disponível no Youtube, clique aqui
- A Carne é Fraca. Produzido pelo Instituto Nina Rosa. Disponível no Youtube, clique aqui
- Terráqueos. Escrito, dirigido e produzido pelo ambientalista estadunidense Shaun Monson. Narrado pelo ator e ativista vegano Joaquin Phoenix. Disponível no Youtube, clique aqui
- Cowspiracy: O Segredo da Sustentabilidade. Realizado por Kip Andersen e Keegan Kuhn, com produção executiva do ator e ativista Leonardo DiCaprio. Disponível na Netflix.
Receitas
Rocambole Assado de Lentilha e Quinoa
Ingredientes
1 xícara (de chá) de lentilha crua
1 e 1/2 xícara (de chá) de água
2 folhas de louro
1/4 de xícara (de chá) de quinoa em grãos
3 colheres (de sopa) de azeite
5 dentes de alho bem picados
1 xícara (de chá) de cebola bem picada
2 colheres (de sopa) de suco de limão
1 colher (de sopa) de orégano desidratado
1/2 colher (de chá) de cominho (opcional)
1/2 xícara (de chá) de aveia em flocos
1/2 xícara (de chá) de farinha de trigo integral
Sal a gosto
Para a montagem
2 xícaras de molho de tomate conforme o seu gosto (para a montagem)
1 xícara (de chá) de purê de batatas conforme o seu gosto
6 unidades de vagem grandes
6 palitos de cenoura
Papel Manteiga, papel alumínio ou plástico
Óleo
Modo de preparo
Coloque a lentilha em uma vasilha, cubra com o dobro de água e deixe de molho por 8 horas. Escorra, lave bem e coloque em uma panela, juntamente com 1 e 1/2 xícara de água e as folhas de louro e deixe cozinhar.
Enquanto isso, coloque a quinoa em uma vasilha pequena, cubra com água quente e deixe de molho por 2 minutos. Escorra lave bem e reserve.
Quando a lentilha estiver quase sem água, retire as folhas de louro, adicione a quinoa, misture e deixe cozinhar até a água do cozimento secar completamente.
Em seguida, adicione o azeite, o alho, a cebola, o suco de limão, o cominho, o orégano e tempere com sal a gosto. Misture bem e deixe cozinhar por cerca de 3 minutos, mexendo sempre para não queimar.
Desligue e acrescente a farinha de trigo integral, a aveia em flocos, misture bem e deixe esfriar completamente, para não atrapalhar a montagem (vai levar cerca de uma hora e meia).
Enquanto isso, prepare o molho de tomate e o purê conforme o seu gosto. Também cozinhe 6 unidades de vagem e 6 palitos grandes de cenoura em água fervente por 5 minutos. Escorra e reserve.
Pré aqueça o forno a 240ºC e coloque uma folha de papel manteiga com cerca de 40cm sobre uma superfície limpa. Distribua a mistura de lentilha e quinoa até formar um retângulo com cerca de 30cmx20cm e aperte bem, ajeitando as laterais.
Dê 2cm de distância da borda e distribua uma camada de purê. Disponha a vagem e a cenoura sobre ele e em seguida enrole o rocambole. Procure deixar o rocambole bem firme, e para isso aperte bem.
Unte uma assadeira antiaderente com uma colher de sopa de óleo, disponha o rocambole sobre ela, ajeite as laterais e pincele óleo sobre toda a superfície dele.
Leve para assar por 30 minutos a 240ºC e em seguida retire do forno. Cubra o rocambole com metade do molho e deixe a outra parte para a hora que for servir.
Devolva ao forno por mais 10 minutos e está pronto! Regue com azeite para servir.
Receita autoral de Paula Lumi. Você pode encontrar essa e outras receitas no blog Presunto Vegetariano, clique aqui
Moqueca Vegana
Ingredientes:
4 tomates grandes cortados e rodelas grandes
2 Cebolas grandes cortados e rodelas grandes
1 pimentão verde cortados e rodelas grandes
1 pimentão amarelo cortados e rodelas grandes
1 pimentão vermelho cortados e rodelas grandes
1 abobrinha italiana cortados e rodelas grandes
Coentro em grãos
400 ml de leite de coco
60ml azeite dendê (óleo de palma)
Sal a gosto
Farofa:
40ml azeite dendê para farofa
60 ml azeite de girassol
Farinha de mandioca
Sal a gosto
Camadas na ordem dos ingredientes a serem levados à panela:
Tomate – cebola – pimentão – abobrinha – tomate – cebola – pimentão.
Cada camada deve ser regada com sal, coentro e óleo de girassol.
Para finalizar:
Regue com leite de coco e azeite dendê (óleo de palma)
Cozinhe até os legumes estarem no ponto.
Receita autoral de Suuen san. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
Fontes:
https://www.svb.org.br/index.php
https://www.sejavegano.com.br/#home
http://vista-se.com.br/redesocial/pecuaria-e-campea-de-trabalho-escravo-no-brasil/
http://vista-se.com.br/redesocial/impacto-da-pecuaria-bovina-no-brasil/