Quando experienciamos uma proximidade da finitude ou das comuns mortes cotidianas — o crescimento, a perda de possibilidades do corpo ao longo dos anos, os amores que se vão, um tempo que não retorna, o lamento por um ato não realizado, a vivência num leito — o que mais queremos durante o processo mortífero é desejar o nascer do sol.
Vê-lo, senti-lo e até sê-lo. Mesmo que você tenha repugnado o sol por toda vida. Mesmo que ele lhe queime.
A iminência da perda que no imaginário se possui, ou a própria experiência propriamente dita de perder, implica num desesperador querer. Há noites que se arrastam muito e parecem infinitas, não é? Mas você sabe que existe uma lei mais forte que suas impressões e desejos, e a lei fará o sol nascer de uma forma ou de outra. E a noite cairá novamente.
Afinal, possuímos algo se toda matéria e experiência são trânsitos? Não podemos possuir nem o tempo, nem o acontecimento. Ele é parte de nós, não uma ferramenta nossa que exercemos manipulação.
Temos a ignorância de sermos apaixonados pela morte, achando que cultuamos e valorizamos a vida.
A vida dança, gente. Desejar o estático é desejar a morte. Por que anseio desesperadamente que a noite chegue se eu sei que ela irá chegar e o sol irá se pôr?
Por que temo meus cabelos embranquecerem e os radicais livres tomarem minha derme e minhas células, se isso já está acontecendo desde o nascimento?
Ansiar é cultuar a angústia. As estações acontecem independente de sua ânsia. Caminhar junto com o que pede cada tempo. Nem um querer vertical, nem horizontal. Nem um passo à frente, nem um passo atrás.
Transitoriedade.
Por Dominike Oliveira, estudante de Psicologia e praticante leiga do Dharma