Dentro do budismo existem muitas escolas com distintos métodos de meditação. Como o Buda Shakyamuni ensinou diversos métodos para tornar o caminho acessível a diferentes pessoas, esta coluna se encarregará de trazer, ao longo das edições, informações, textos, entrevistas e perspectivas sobre os tipos de meditação das variadas escolas.
Nesta edição, falaremos um pouco do zazen, que é o centro da prática do Zen Budismo.
O que é meditação?
Zazen significa, literalmente, sentar zen. Zen é uma palavra que vem do sânscrito dhyana ou jhana e significa um estado meditativo profundo (COEN, s/d). De acordo com Genshô Sensei:
“A palavra meditação, em português, não reflete bem. É melhor nós dizermos “fazer zazen”, porque quando você diz meditar, parece meditar ‘sobre’ alguma coisa, porque o verbo é transitivo direto, e não é isso que nós fazemos, nós fazemos zazen. Zazen é sem objetivo. […] Zazen serve pra quê? Para nada. Se você quer obter alguma coisa com o zazen está errado. Isso já não é mais zazen. Agora, zazen serve para tudo? Também serve para tudo, porque você poderia empregar a mente que você treina no zazen para tudo. Mas se você sentar em zazen, pensando “estou treinando para usar em tal atividade”, então não é mais zazen. É uma forma de treinamento mental. Porque tem uma ambição, um objetivo, uma mente aquisitiva, em que você pretende ser melhor que os outros, isso tudo perturba o zazen. Por isso, Shunryu Suzuki respondeu: ‘Zazen não serve para nada. ’” (GENSHÔ, 2014).
O zazen é a base da prática Zen Budista. A verdadeira prática do zazen é shikantaza ou “apenas sentar-se” como ensinou o Mestre zen Dogen Zenji. Para Genshô sensei (2007), a meditação não é um estado alterado de consciência, pois o estado normal é que já é alterado, perturbado pela mente conceitual e pensamentos, lembranças, preconceitos, expectativas etc. Dessa forma, a atenção correta não gera autoconhecimento, mas plenitude e clareza. Não é propriamente observar a si mesmo, senão quem estaria observando? Na realidade, quando fazemos zazen é que nos damos conta de como nossa mente é, de como estamos sempre. Quando paramos é que vemos que a nossa mente está turbulenta o tempo inteiro. Assim, não é a meditação que faz isso, porém, ela nos revela a fotografia de nossa mente. Então, o que é necessário? Precisamos praticar zazen até essa mente acalmar. “É como se fosse um copo de água cheio de areia que a gente mexe. Fica tudo turbulento, mas se você conseguir parar, a areia vai assentar no fundo e a água fica limpa”.
Como praticar?
Monge Genshô explica que durante o zazen não há um alguém que observa algo, ou se concentra em algo, já que isso forçaria a identificação de um EU que olha algo. Simplesmente sentamos com todos os seres e deixamos passar qualquer pensamento que se apresente. Voltamos de modo contínuo ao momento presente, sem cogitar, sem julgar.
Não tentamos parar os pensamentos, pois essa é uma atividade natural da mente. Concentrar-se em algo também não é correto. A instrução é apenas sentar, aquietar-se e deixar a respiração se tornar natural. É possível se concentrar inicialmente na respiração, apenas como forma de manter-se focado no momento presente. Com o tempo, a respiração será natural, profunda, com longas expirações, mas você não estará mais focado nela. “No zazen não há concentração em coisa alguma, em nada especial, trata-se de apenas estar ali sem objetivo algum. Os pensamentos surgem e passam, não os seguimos nem fazemos considerações sobre eles”, ensina o monge.
Se há o desejo de praticar o zazen, procure um bom centro de prática (que com a pandemia pode ser encontrado de forma virtual) e treine com um professor habilitado. Sem este auxílio é muito raro que se medite corretamente.
Infográfico elaborado por Andreza Albuquerque.
Confira mais informações sobre retiros de meditação e centros de práticas em nossa coluna Variedades clicando aqui
Matéria elaborada pela equipe da coluna de Meditação.
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Fontes:
Genshô Sensei. “Meditação é um estado alterado de consciência?” In: O Pico da Montanha é onde estão os meus pés. Notas sobre a vida espiritual e notícias budistas, 2007. Fonte: https://opicodamontanha.blogspot.com.br/
Como sentar em zazen? In: O Pico da Montanha é onde estão os meus pés. Notas sobre a vida espiritual e notícias budistas, 2008. Fonte: https://opicodamontanha.blogspot.com.br/
Em que devo focar minha mente no zazen? In: O Pico da Montanha é onde estão os meus pés. Notas sobre a vida espiritual e notícias budistas, 2008. Fonte: https://opicodamontanha.blogspot.com.br/
A prática da meditação. In: O Pico da Montanha é onde estão os meus pés. Notas sobre a vida espiritual e notícias budistas, 2009. Fonte: https://opicodamontanha.blogspot.com.br/
Devo tentar não pensar? In: O Pico da Montanha é onde estão os meus pés. Notas sobre a vida espiritual e notícias budistas, 2009. Fonte: https://opicodamontanha.blogspot.com.br/
“Zazen não serve para nada” In: O Pico da Montanha é onde estão os meus pés. Notas sobre a vida espiritual e notícias budistas, 2014. Fonte: https://opicodamontanha.blogspot.com.br/
“Assentando a poeira mental” In: O Pico da Montanha é onde estão os meus pés. Notas sobre a vida espiritual e notícias budistas, 2015. Fonte: https://opicodamontanha.blogspot.com.br/
Monja Coen Roshi. Zazen. Fonte: http://www.monjacoen.com.br/textos/textos-da-monja-coen/131-zazen