Pensamentos Versus Saúde Mental

 

Ansiedade e medo são respostas humanas naturais. Normalmente sentimos medo quando nos deparámos com alguma situação de perigo, como quando somos fechados no trânsito e precisamos frear abruptamente para não colidir em outro veículo. Nesse momento, nossos corpos vivenciam uma resposta fisiológica, acelerando os batimentos cardíacos, sudorese nas mãos e o sangue disparando para os membros com intuito de tomar uma ação rápida e conservarmo-nos seguros. Em face de perigo real, essa é uma resposta adaptativa. Porém, essas mesmas sensações estressantes podem emergir sem necessariamente ter um perigo real, mas sim evocadas pela memória de um fato ocorrido no passado ou pela antecipação de uma ameaça futura, em que nos preparamos para uma resposta de luta ou fuga quando nada está de fato acontecendo, pois são apenas memórias que se materializam em forma de pensamentos. Na maioria das vezes, pensamentos são pensamentos e não propriamente verdades, ter consciência disso pode evitar sofrimentos.

Nossos pensamentos são carregados de emoções e sentimentos que, geralmente, provocam desequilíbrio na produção de hormônios do estresse, o cortisol, sendo esse desequilíbrio nocivo para nossa saúde mental e física. Muitos estudos, desenvolvidos por cientistas da neurociência, relatam que ao reagirmos da mesma forma emocionalmente, vamos criando uma espécie de “trilha neural”, ou seja, ao reforçarmos determinada reações diversas vezes (ou até milhares de vezes) vamos modelando essas respostas tornando-as automáticas, como se fosse um vício mental. E como podemos começar a sair disso?

A prática do zazen pode ajudar-nos a ficar conscientes dessas respostas automáticas, permitindo-nos aceitar o momento presente como ele é, e a fazer o que realmente importa. Podemos experimentar simplesmente vivenciar uma situação de ansiedade e medo, sem colocar nossas opiniões e julgamentos (sem fazer render mais do que se é), e talvez possamos observar que a situação não é tão assustadora assim.

Monge Genshô aprofunda esse assunto no texto “Zazen, Samadhi, Kensho e Satori”, traz-nos a seguinte reflexão: “Quando você levanta do zazen, o mundo mudou um pouco, porque você foi lá e conseguiu ‘parar’ de gerar karma. Você está sentado ali, não está gerando karma, pois sua boca está fechada, você não está pensando nem planejando e você não está agindo. Não está gerando karma. À medida que você apaga e vê que as coisas não têm a importância que pareciam ter, suas marcas kármicas vão sendo dissolvidas, vão sendo amenizadas, você tem uma mente que pode ser construída com novas energias”.

(Re) construir a nossa mente com essas novas energias, com essas novas conexões neurais, a partir da prática do zazen é muito desafiador. Deveria ser natural, sentar e deixar que a água turva repouse no fundo, no entanto, requer disciplina e diligência, especialmente num mundo pautado nas delusões.

Que possamos continuar praticando zazen, sem expectativas, possibilitando ver a vida como ela realmente é, ao mesmo tempo, contribuindo positivamente com nossa saúde mental e entrando mais em contato com nossa verdadeira natureza, nosso verdadeiro SER, e, porque não dizer, com lampejo da nossa condição de samadhi, kensho e satori.

 

Texto de Lenemar Nascimento Pedroso. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

 

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