Terceiro Elo
VIJNANA
Consciência
O terceiro elo representado na Roda da Vida por um macaco é Vijnana, refere-se à consciência da dualidade. Vijinana surge na dependência de Samaskara que por sua fez surge na dependência de Avidya, isto é, havendo a perda da perspectiva ampla da mente, essa passa a atuar através dos acessos às marcas mentais para sustentar esse estreitamento. A partir dessas duas condições Avidya e Samskara, que consideradas a um nível inconsciente representam tendências passadas, Vijnana surge, de forma automática e condicionada, como uma forma de religação dessas estruturas kármicas, dando origem a consciência dual. Nesse aspecto as influências do passado se atualizam no presente por meio da geração dessa consciência dualista.
Jnana expressa uma consciência desperta e total, enquanto o prefixo vi indica divisão e separação. Vijinana é a consciência dividida, não mais total, mas limitada e fragmentada. Ela se apresenta separada de seu original, primordial de conhecimento não-dual e que se tornou a consciência comum da vida diária. O surgimento do terceiro elo se refere justamente ao exato momento em que se cria o embrião da consciência da dualidade entre o “eu” e o “mundo externo”, entre o observador e o objeto. É nesse momento, quando observa as sensações e os pensamentos que experimenta, que o observador gera autoconsciência e infere sua existência. Esse processo é verificado quando, na condução de um objeto para o outro, percebe-se a inseparabilidade entre aquele que vê e aquilo que é visto e nessa dinâmica nota-se que, o objeto é uma experiência de objeto e a energia é uma coisa que sentimos. Quando diz “a energia é uma coisa que sinto”, surge a consciência do observador. O observador se vê. É como se o observador recuasse e pudesse ver a energia nele mesmo. O processo se age dessa forma porque os três primeiros elos ainda estão atuando no campo pré-verbal de forma direta, por isso a percepção dessa dualidade se configura como consciência de uma energia produzida pelo foco em um objeto. O par se dá, mas ainda não é conceitual.
Outra verificação é que tudo que emerge, brota a partir do espaço amplo da mente, mesmo que na aparência da realidade o que emerge, aparentemente emerge separado do seu observador, na verdade o par sujeito-objeto origina-se do mesmo lugar. Mas qual é esse lugar de onde emergem todos os pares duais? Esse lugar é chamado de Alayavijinana que significa “depósito de Vijnana”. Samskara são marcas através das quais vemos o mundo e que parecem estar fora do observador, parecem estar no objeto. Enquanto Vijnana parecem estar no próprio observador, pois são as marcas pelas quais o observador vê a si mesmo; esses dois conjuntos são absolutamente complementares. Vijnana emergindo de alayavijnana busca um modo de se expressar nos objetos percebidos como externos, ao mesmo tempo nós, num esforço para estabilizar a nossa mente, buscamos objetos que possamos focar e então o mundo inteiro termina sendo uma expressão de nossa mente, de Alayavijnana expressando Vijnana e Samskara.
De acordo com os ensinamentos budista e para contextualizar Alayavijnana, ou campo de armazenamento de Samskara e Vijnana, pode-se dizer que nossa mente possui oito consciências. As cinco primeiras baseiam-se nos cinco sentidos físicos; consciência da visão, consciência da audição, do olfato, do paladar e consciência da mente, que equivale à mente racional e que coordena a informação dos outros sentidos. A sétima é manas, chamada de consciência mental aflita e impura e responsável pelo nosso sentido de ser. É a mente dos sonhos, das memórias e da confusa corrente subterrânea dos pensamentos. Manas age como ligação entre as primeiras seis consciências e a oitava que é a consciência original (Alyavijinanna), que é o chão, ou a base, das outras sete consciências. Manas olha em ambas as direções, manda mensagens dos sentidos e da faculdade mental para serem mantidas na consciência armazenadora, e a traz de volta quando é necessário na vida em vigília. Alayavijinana é uma consciência difusa e indiferenciada, nem mesmo é dependente deste corpo e desta vida em particular. É potencialmente um sentido de ser, carrega a continuidade dos efeitos kármicos de uma vida para a próxima e cria um corpo mental durante o bardo entre a morte e o renascimento. A oitava consciência está sempre presente e potencialmente consciente. Através da prática é possível abrir esse potencial e perceber a consciência da dualidade, e então realizar que todos os fenômenos que emergem não estão separados de nós, mas estão numa relação de pertencimento profundo com a consciência pura e não dual.
Texto de Danielle Kreling. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
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