O peso do apego

 

Uma vez, lendo um livro sobre o Budismo, me deparei com uma de suas várias fábulas. Dessa vez, essa fábula me causou muitas reflexões durante um bom tempo. A história narrava uma situação cotidiana sobre dois monges, um mais jovem e outro mais velho, que se preparavam para atravessar um rio e alcançar a outra margem. No início do trajeto, uma mulher apareceu e pediu ajuda para atravessar o rio, mas os monges tinham feito um voto de nunca tocar em uma mulher. Prontamente, o monge mais velho colocou a mulher em suas costas e a levou até a outra margem do rio. Algum tempo depois, o monge mais jovem, intrigado, perguntou por que o monge mais velho havia ajudado a mulher, mesmo sabendo que não podia tocá-la. De forma muito objetiva, o monge mais velho respondeu: “Eu a levei até a outra margem do rio faz horas. Por que você continua a carregá-la?”

Essa história gerou em mim uma reflexão profunda sobre o peso das preocupações e dos julgamentos que carregamos desnecessariamente. Ela me fez pensar em quantas vezes nos apegamos a questões passadas que já deveriam ter sido abandonadas, impedindo-nos de viver plenamente o presente. Quantas vezes já ocupamos o papel do monge mais novo? E quantas vezes evitamos ser o monge mais velho? Essa fábula nos ensina tantas coisas que precisei revê-la diversas vezes, e talvez ainda não tenha compreendido sua totalidade. 

Acredito que o primeiro ensinamento é o desapego. O monge mais velho decidiu quebrar uma regra pois sabia que o mais importante era ajudar o próximo, mostrando um ato de compaixão. E, após cumprir sua tarefa, conseguiu abandonar aquela situação sem quaisquer julgamentos. Em contraste, o monge mais jovem continuou preso à situação, carregando o peso da preocupação e do julgamento muito depois do ocorrido. Quantas vezes prolongamos o nosso sofrimento mesmo após resolvermos a situação?

Essa fábula nos convida a uma reflexão importante sobre a verdadeira natureza do desapego e a importância de viver o momento presente. O monge mais velho representa a sabedoria de estar presente no momento, dos atos de compaixão e do desapego ao passado. Ele nos lembra que, para encontrar paz e clareza mental, devemos aprender a soltar as cargas emocionais e mentais desnecessárias. Por fim, te convido a responder as perguntas que fiz no começo do texto: quantas vezes em sua vida você ocupa o papel do monge mais novo? E quantas vezes você ocupa o papel do monge mais velho? Olhe para si e veja o quão pesado é o seu apego ao sofrimento, aos momentos já vividos, às coisas que já se foram com o vento. Por que você ainda continua a carregar?

Texto de Isabela Santos da Daissen Ji. Escola Soto Zen.

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