Existe um conceito muito pouco trabalhado nas artes marciais modernas e que diferencia essencialmente as lutas esportivas do Budô; o conceito de ZANSHINDÔ, 残心道. Literalmente ZANSHINDÔ significa “O Caminho do Coração Residual”.
No Kyudô ele corresponde a oitava parte do tiro (o tiro com arco e flecha é dividido em oito etapas, HASSETSU) e tem o sentido de manter a postura e o gesto mesmo depois da flecha ter sido disparada, é a continuidade do sentimento, o espírito que continua atento. Muito embora os sete primeiros movimentos do arqueiro cumpram etapas físicas, o ZANSHINDÔ é algo que está muito mais para o metafísico.
No Shôdô, o Sensei Kazuaki Tanahashi diz que o traço no papel deve ser precedido por um risco no ar e uma vez terminado o traço, este não deve ser interrompido abruptamente, mas o pincel “vazio” deve continuar seu movimento fora do papel, como algo que ainda necessita ser feito mesmo sem o pincel tocar o papel, e isso afeta de forma significante a caligrafia.
ZANSHINDÔ é como tocar a flor e trazer consigo o aroma mesmo quando a flor não esteja mais presente, um conceito também muito associado a estética japonesa e ao Zen de não fazer coisas casuais ou desatentas, é a continuidade da beleza e da sutileza quando o físico de esvai. Fechar a porta ao sair, apagar a luz, deixar as coisas em ordem e não ser desleixado ou desatento.
No Chadô, após os convidados se retirarem, o anfitrião não limpa imediatamente a sala e lava rapidamente seus utensílios, ele aguarda serenamente no mais absoluto silêncio, sentindo a essência da Cerimônia do Chá, 一期一会 ICHI GÔ ICHI Ê, Um Encontro uma Vida, e com a certeza de que este encontro jamais de repetirá ele embala suas memórias.
Texto de Monge Chudô. Monge na Daissen Ji. Escola Soto Zen.