Assistir ao filme Avatar 2: O caminho das águas, trouxe à tona diversas emoções e reflexões pertinentes a nossa relação com o meio em que vivemos. Apenas para contextualizar, o filme conta a continuação da história de Jake e Neytiri e seus filhos que vivem em Pandora, sendo Jake o chefe do clã dos avatares que moram na floresta. No primeiro filme, Jake havia matado o general humano responsável por coordenar a invasão na terra onde eles moravam e por conta disso, os humanos voltam nesse segundo filme, como clones de avatares para se vingar e buscam Jake a fim de vingança. As invasões nessa terra levaram à Jake e sua família fugirem para outro local. Acostumados com a vida na floresta tropical, os primeiros contatos nessa região são bem complexos e demandam muito esforço deles, pois o ambiente em questão é um recife e boa parte das atividades realizadas são no oceano.
O corpo dos indivíduos do clã que habitava esta região de recife, os Metkayina, apresentava características corporais para um bom desenvolvimento na água, enquanto os da floresta não, fato que fez eles se sentirem deslocados a princípio. Ocorre que com o tempo e treino, eles desenvolveram habilidades na água também e da mesma forma que eles se sentiam conectados à natureza na floresta, agora passam a fazer parte deste novo local de forma profunda. Esse foi o primeiro momento que refleti a partir de um pensamento budista, a impermanência. Os personagens mostraram como podemos nos adaptar às mais diversas situações e que nem mesmo essa sensação de não pertencimento é permanente.
Outro ponto importante no filme são as diversas criaturas marinhas e como estas convivem em equilíbrio no oceano, porém, cenas difíceis de assistir e que fazem doer o coração logo aparecem quando os Tulkuns entram em cena. Estes animais parecem as baleias do mundo real, e no filme, eles sofrem com a caça desenfreada pelos humanos. O motivo da caça é um precioso líquido presente em seu cérebro que aumenta a longevidade, valendo milhões no planeta Terra. Uma das cenas mais comoventes é quando uma mãe Tulkun é atingida e seu bebê olha tudo acontecer, ficando sozinho naquele vasto oceano. Por outro lado, uma bela amizade é enfatizada no filme, a do filho de Jake com um Tulkun, mostrando uma profunda conexão entre os dois que se comunicam com gestos, sons e olhares.
Assistindo a todas essas cenas, lembrei de todos os impactos negativos que nossa espécie causa com a caça excessiva de inúmeros animais para o consumo de sua carne, óleos, couro, entre outros usos, além da poluição, que desencadeia efeitos negativos a curto e longo prazo. Deste modo, creio que este filme trouxe um grande impacto a quem assistiu, e trouxe discussões e questionamentos sobre nossos hábitos aqui neste planeta.
Esses olhares que ocorrem entre os seres do filme, revela uma profunda conexão que os avatares possuem com a natureza e isso me lembrou o que eu sentia quando criança e que nos últimos 2 anos voltou por conta da prática do zazen. Quando eu via um animal sofrendo, mesmo que fosse uma abelha, formiga, qualquer ser, aquilo doía como se fosse em mim, e uma profunda vontade de carregar aquele ser no colo e retirar sua dor me tomava conta.
Ao longo da vida fui criando formas de me proteger desse sentimento, e hoje me vejo como quando criança novamente, porém, uma criança mais preparada para não ser dominada por isso e para tentar fazer algo benéfico sempre que eu puder. Esse foi o tema do meu primeiro dokusan com o monge Genshô, e graças a nossa ótima conversa, hoje sei que posso fazer muitas coisas para ajudar a maior quantidade de seres, mas que não posso mudar tudo, além disso, ficar apenas sofrendo com o que ocorre todos os dias com os animais e com o meio ambiente não irá trazer nenhum benefício para ninguém.
Sendo assim, conclui que as nuvens presentes na nossa visão dificultam ou até mesmo impedem de estabelecer uma bela e profunda conexão com todos os seres, conexão esta que produz um leve e doce sorriso no rosto, ou por vezes, até uma lágrima de emoção, mas que não pode ser traduzida em palavras.
Texto de Mariana Belchor. Doutora em Biologia e Professora de Fisiologia. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
Referências:
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/caca-baleias.htm
https://apremavi.org.br/
https://www.tecmundo.com.br/minha-serie/257005-avatar-2-historia-jake-neytiri-moldada-familia.htm