Sobre a Prática da Meditação: sob a perspectiva do Budismo Shin
O Buda ensinou vários métodos de meditação diferentes. Todos eles têm como base o que está na modinha, o famoso “mindfulness“. Infelizmente, cada um fala de uma forma diferente, mas a maioria destrói o conceito a sua maneira. O approach que terminam apresentando é só uma pequena parte de um conceito extremamente amplo. Mas, como temos um desafio comercial a encarar, você acaba caindo em conceitos bastante incompletos para vender algo que não se deve comercializar.
Os vários métodos da meditação baseiam-se em um único conceito, que é o conceito da atenção plena, é o princípio da recordação e da atenção, esse princípio ao invés de você se introspectar, você precisa se expandir. Você precisa olhar o mundo percebendo todos os detalhes desse mundo. Percebendo os detalhes de sua vida – é você olhar as pessoas em volta percebendo quem elas são e o que elas sentem.
Outro erro comum, que é um tremendo estereótipo que eu não sei donde veio isso, é alguém falar que meditar é parar de pensar. Eu costumo dizer que você me apresente alguém que parou de pensar, eu vou te mostrar um cadáver, porque o cara está morto. Ninguém para de pensar, isso não existe. Esse conceito é totalmente falso.
O que você precisa fazer é ter atenção aos seus pensamentos e não parar de pensar. Então você pode prestar atenção em você de diversas maneiras, não precisa parar, sentar para meditar, para prestar essa atenção.
Quando você olha para alguém e está conversando com uma pessoa e consegue perceber nela as próprias emoções, se ela está triste, está feliz, se está precisando de ajuda, sem ela ao menos falar para você. Isso é prestar atenção. Isso é mindfulness. É o prestar atenção com compaixão e sabedoria. Com um propósito nobre de auxiliar o outro.
Você dizer um “muito obrigado”. Você ver uma pessoa limpando seu escritório e chegar nesta pessoa para dizer “bom dia” e agradecer pelo trabalho que ela está fazendo, isso é atenção plena, isso é meditação no dia a dia.
Se você conseguir treinar sua mente para perceber esses pequenos detalhes, como, por exemplo, uma flor que desabrochou no jardim numa manhã. Se você conseguir olhar para seu jardim e simplesmente ver que ele está diferente todos os dias, isso é uma maneira de meditar. Se você olhar para seus filhos e perceber as necessidades deles antes de se manifestarem ou mesmo quando manifestando, você ajudá-los e não simplesmente deixar a vida deles fluir, isso é meditação também.
Meditação não é só você sentar e ficar lá na posição de lótus por três horas e meia. Isso é só um exercício. Isso é apenas um exercício para você aplicar no resto da sua vida.
Mas também é bom complementar que há estudos, do Instituto Mind & Life, compostos de cientistas de Harvard, MIT e algumas outras faculdades dos Estados Unidos que comprovam efeitos extremamente positivos na alteração da neuroplastia por meio de exercícios meditativos.
Executando isso no seu dia a dia, como também o positivismo tendemos a ver as saídas apropriadas para diversas situações e não se entrega às coisas negativas da vida, passando a vê-las como passageiras também.
Então o exercício mais simples de meditação que se pode fazer em qualquer lugar é concentrar-se na contagem de sua respiração. O ato de inspirar e expirar é o que nós fazemos mais automaticamente em nossas vidas, pois não precisamos pensar para manter-nos vivos. O ar entrando e saindo de seus pulmões. Essa é a meditação mais básica que existe, o foco na sua respiração. Podemos lembrar que a respiração sempre teve um papel preponderante nas artes marciais, na yoga, nos vários outros tipos de exercícios do oriente, onde saber respirar faz com que tenhamos muitos benefícios para saúde.
O benefício da meditação no sentido amplo que comentei, para a geração que chegou ou está chegando nos 50 anos, é extremamente positivo pois tem um mundo totalmente diferente vindo atrás de nós, mundo em constante mudança. Participamos de uma geração em que esta mudança foi muito acentuada, que começamos esta inércia das mudanças violentas que o mundo está fazendo.
Sou da geração que nasceu no fim dos anos 60, inicio dos anos 70, somos uma geração pós “Woodstock” como diz o filósofo contemporâneo e também budista, Ken Wilber, essa geração dos anos 70 é uma geração que vem sobrepor uma geração que ele diz como estagnada, justamente a geração do início dos anos 50, final dos anos 40.
Então um mundo desaba sobre nós com uma onda de mudança violenta e creio que devemos entender de uma vez por todas que não somos independentes um dos outros. Tudo está interligado e todas as nossas ações afetam nossos amigos, vizinhos, colegas de trabalho. É preciso entender que estamos presos em uma rede e temos que agir com sabedoria e compaixão. Vivemos tempos de racismo, tempos de intolerância e quando partimos do pressuposto que estamos prestando atenção nas pessoas, estaremos tratando a todos de forma mais igualitária, olhando as necessidades alheias com uma forma um pouco mais focada, isso só pode trazer benefícios para a sociedade e para nós de um modo geral.
Em quanto tempo você começa a sentir os benefícios?
Isso varia de pessoa para pessoa, pessoas podem nunca sentir os benefícios de nada pois simplesmente fazerem de maneira errada.
Vou dar um exemplo:
Se você passa na rua e vê um mendigo no chão e você olha para ele e ao invés de dar dinheiro tem o trabalho de ir até uma padaria, comprar um prato de comida, ou comprar 2 pratos de comida e sentar ao lado dele e comer junto com ele e fazer-lhe companhia isso já traz benefícios para você porque a compaixão é extremamente positiva para nossa mente. Além disso traz benefício para o outro. Quando você olha para alguém na rua com alguma necessidade em um dia de chuva, talvez, e você tem um guarda chuva no carro, que não vai fazer nenhuma falta, simplesmente, sem pensar você pega aquele guarda chuva e entrega para uma pessoa, isso é meditação, isso é “mindfulness” – isso é prestar atenção.
De novo, você não precisa sentar para poder fazer isso, você age. E essa ação é que é importante. Então com isso pode se beneficiar do momento zero.
Agora se você faz meditação e continua sendo egocêntrico e egoísta olhando para você como sendo o centro das atenções do mundo, pode ficar 20 anos meditando que você não vai sair do lugar nunca.
Texto de Monge Hondaku. Escola Terra Pura – Budismo Shin.