Entrevista com o Monge Zen e Artista Paul Quintero

Paul Quintero é artista, monge e mestre zen budista da Venezuela. Gentilmente, aceitou fazer essa entrevista conosco, compartilhando um pouco de sua experiência e vivência sutil na arte e no Dharma. Ele administra a página no Instagram @art_zen_time, onde publica suas artes e ensinamentos e faz a venda de seus trabalhos.

 

Sensei Quintero, para o senhor, o que é arte?

Sensei Quintero: A arte é a pura expressão de uma mente livre sem barreiras. É a expressão de uma mente que vai além do momento e toca a criatividade que vem do universo. A criação, a pintura é uma expressão da Mente Clara. É uma atividade pura, livre de preconceitos culturais e sociais. Como consequência, o artista se comunica com a mente clara de todos os seres para compartilhar beleza e alegria.

O senhor tem um estilo artístico muito singular e belo. Eu vejo muito do estilo sumiê nele, e talvez aquarela. Muito vibrante e colorido. Como ele surgiu?

 Sensei Quintero: Eu comecei a pintar quando criança. Sempre fiquei impressionado com as cores e suas combinações. Comecei a desenvolver minha própria arte Zen em 1981, quando comecei a estudar arte chinesa com o mestre Marcos Fung e caligrafia chinesa com o monge Jacques Foussadier em Paris. Depois continuei estudando caligrafia japonesa com a Sensei Mary Onari. Combinei o desenho Zen com os ensinamentos de Buda e Darma para criar meu próprio estilo. É um trabalho artístico que amadureceu ao longo de muitos anos. Tinta, pincéis chineses e papel de arroz têm sido meus companheiros por muitos anos. A cor aparece como flashes de meu próprio ‘chi’ (energia), e sumi-e em muitos casos fortalece visualmente a força do Buda-Dharma.

Parece haver um lugar especial para as cores em seu trabalho. Você poderia nos dizer um pouco mais sobre sua relação com elas?

Sensei Quintero: A cor ocre é essencial na minha arte zen. O ocre é a cor da kesa, é a terra onde a vida prospera. As outras cores em minhas obras vivificam a presença do Dharma. O Darma é ativo, as cores também são manifestações ativas de energia. O Dharma e as cores são as duas asas de um pássaro. Onde este pássaro para, ali floresce a arte Zen que eu pratico.

 

O senhor pode nos contar um pouco sobre seu processo criativo?

 Sensei Quintero: A arte Zen vem de uma mente clara. O papel é observado com o pincel na mão; espera-se que a mente deixe a expressão artística fluir livremente, e ela espontaneamente toma sua forma na superfície do papel. Não há pensamentos anteriores que limitem o novo trabalho artístico. Trata-se de deixar a expressão artística emergir do não-mente. Esta é a verdadeira arte zen: capturar a obra do vazio mental sem rótulos ou ideias antigas que perturbam. Tudo na arte zen é novo. É “agora-arte”.

Obrigado. Poderia, por favor, elaborar um pouco sobre como o senhor vê a ligação entre Arte e Dharma? Como a arte moldou a sua prática?

Sensei Quintero: Na realidade, o Dharma também é arte. Um ensinamento brilhante inspirador que clarifica os nossos corações e mentes. O Dharma é a arte de mudar os nossos maus hábitos, de praticar o não apego e de encontrar a liberdade interior. A minha arte é está mesmo Dharma. Cada cor, figura e linha é uma ligação com a Mente Clara. Não é possível separar a minha arte do Dharma… eles são o mesmo ensinamento. A prática do zazen tornou isto possível.

 

Levando isso em consideração, como a arte influencia sua forma de ensinar o Dharma?

Sensei Quintero: Eu apenas sigo este Dharma-Arte tal como a lua segue o sol. Nada a resistir, nenhuma pergunta do intelecto, nenhuma necessidade de pensar em demasia. A Dharma-Arte é um caminho sobre as nuvens.

Finalmente, tem algo a dizer aos aspirantes a artistas que estão seguindo o caminho budista? Ou talvez, aos artistas que aspiram a budistas?

Sensei Quintero: Procurem a verdade nas vossas mentes. Deixem a arte fluir do vosso não-mente. Que a sua arte se torne Dharma como um rio se torna o mar. Se a mente não estiver apegada, a vossa arte será pura, clara e comovente.

 

Sobre o artista:

Paul Quintero nasceu na Venezuela e é formado em línguas modernas (inglês e francês). Ele é um monge Zen ordenado por Taisen Deshimaru, La Gendronniere Zen Temple – Blois, França (1981). Estudou pintura clássica com o pintor venezuelano Omar López e estudou caligrafia chinesa com Jacques Foussadier (Monge zen, França) e com Sensei Mary Onari (Venezuela). Ele estudou desenho chinês com o professor chinês Marcos Fung, Venezuela. Realizou estudos de poesia com os poetas venezuelanos Enrique Arenas Capielo e Blas Perozo Naveda. Compositor e músico. Professor de criatividade musical para crianças (Instituto Integral de Criatividade) e canto para crianças com deficiência (Instituto Azupane. Maracaibo, Venezuela). Fundador e principal instrutor da Escola de Caligrafia Chinesa e Desenho Zen “Budas de Agua” (Caracas, Venezuela). (www.budasdeagua.wordpress.com). Artista de desenho Zen. Criador e escritor do blog “Muellezen” sobre Zen Budismo.


Para conhecer mais sobre a arte do monge Sensei Quintero acesse seu perfil no Instagram @zen_art_time

 

Entrevista realizada por Matheus Anshin e Fernando Aishi, praticantes na Daissen Ji. Escola Soto Zen..

 

 

 

 

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