“O Buda nos mostrou que podemos viver com simplicidade e, mesmo assim, sermos muito felizes”, disse Chan Khong, da Comunidade Internacional de Budistas Engajados Plum Village, na carta intitulada “Declaração Budista sobre as Mudanças Climáticas aos Líderes Mundiais”.
O Budismo convida-nos a todo tempo a colocarmos em prática seus ensinamentos, por isso chama-se os seguidores do Dharma de praticantes. Sendo assim, refletir sobre nossos hábitos de consumo e desenvolver ações que visem a minimizar nosso impacto ao meio ambiente pode ser também considerada uma ação alinhada com a ética budista. Exemplo: no tratamento do lixo, o Japão traz em sua cultura uma grande preocupação com a gestão de resíduos e possui tradicionalmente um conceito muito interessante para o não desperdício, conhecido como mottainai.
Mottainai é mais do que um conceito e remete a um sentimento de pesar pelo desperdício. Não há um consenso sobre o seu significado, nem tampouco uma tradução correta do termo. Mottainai quer dizer algo como faltando com dignidade em relação ao objeto, um chamado para que reconheçamos a importância de tratar todos os objetos com muito cuidado e respeito.
Naturalmente a ideia de mottanai está alinhada com o conceito de gestão de resíduos, sustentabilidade e com a preocupação com as questões ambientais. Na reunião de cúpula do G8 de 2005, o então Primeiro-Ministro do Japão, Koizumi Junichiro, citou o termo e defendeu que a filosofia mottainai deveria ser aplicada internacionalmente para um melhor aproveitamento dos recursos.
Dentro dessa perspectiva pode-se considerar que a ideia trazida pelo mottainai está intimamente vinculada com a política de resíduos dos 3 R´s, que representam, nessa ordem de importância: reduzir o consumo ao máximo, reutilizar produtos e materiais enquanto puderem ser reutilizados e, por último, reciclar aqueles que tiverem chegado ao fim de sua vida útil.
Desse modo, a política conhecida também como os 3 R’s da sustentabilidade abarca os princípios de mottainai ao ter como objetivo aproveitar o uso dos objetos ao máximo de forma a evitar descartes desnecessários, tendo como primeira ação a ser observada o R de Reduzir e a último a ação o R de Reciclar.
Assim, para termos ações mais sustentáveis o primeiro ponto que devemos estar conscientes e da necessidade de adquirir certo objeto e isso vale para bens de consumo e para alimentos, assim como, reduzir o uso dos recursos naturais como a água, por exemplo.
Toda essa reflexão acerca do cuidado com o desperdício e o uso consciente dos recursos está presente também em diversas práticas dentro dos mosteiros budistas. Além disso, a vida nos monastérios é extremamente simples e os monges possuem somente o estritamente necessário para sua prática e subsistência.
No livro Velho Caminho, Nuvens Brancas, do mestre Thich Nhat Hanh há uma passagem que ilustra bem o grau de simplicidade de um monge. No trecho Buda teria dito que “Um monge vive uma vida simples e modesta. Ele não tem dinheiro, dorme em uma cabana de capim ou entre as árvores. Come somente aquilo que recebe ao mendigar, uma única refeição dia.”
De fato, a austeridade e a busca, pela simplicidade nos mosteiros são meios que visam o aprimoramento espiritual, porém, tal conduta também reflete uma relação mais consciente com os objetos o que propicia um menor número de resíduos.
Considerando, contudo, que a maioria de nós, não conseguimos viver com esse nível de renúncia, que possamos, ao menos, repensar nossos hábitos de consumo e que, a exemplo do que é praticado no Japão, saibamos aproveitar os objetos ao máximo, gerando assim menos lixo e menos impactos ao meio ambiente.
Texto de Liana Oliveira Lopes Borges. Auditora Fiscal do Meio Ambiente. Praticante no Daissen Ji. Escola Soto Zen.
Fontes:
https://www.japaoemfoco.com/mottainai-a-filosofia-do-desperdicio-no-japao/
https://web-japan.org/trends/buzz/bz0509.html
https://www.piramidal.com.br/blog/economia-circular/3-rs-da-sustentabilidade/#
