O estudo genérico não traz problemas em especial. Problemas podem ocorrer se, no início, houver uma mistura de diferentes linhas e pontos de vista (o que efetivamente ocorre no budismo). Isso cria alguma confusão. Outro problema é um estudo não sistemático (em ordem crescente), que leva a um conhecimento fragmentário, coisa que costuma acontecer em qualquer estudo não organizado.
Do ponto de vista da prática espiritual, no zen, em particular, enfatiza-se a prática da meditação e deixa-se o estudo para mais tarde. É evidente que você pode encontrar grandes conhecedores da história e dos textos budistas que não passam de eruditos, cujo avanço espiritual é muito pequeno.
No zen, enfatiza-se a condição mental, a prática em si. Conta-se muitas histórias de analfabetos iluminados pela prática e pelo contato com um mestre.
Há também textos muito difíceis, que não podem ser compreendidos sem o contexto anterior. Algumas vezes, eles são ditos ”perigosos” e realmente o serão, se estudados sem adequada preparação. Dizem-se perigosos porque levam a pontos de vista absurdos. A título de exemplo, há os casos de mestres do passado que agiram de forma que afronta a preceitos básicos do budismo; o leitor despreparado pode concluir que isso é admitido no budismo. Ou seja, trata-se de leitura descontextualizada, oriunda do conhecimento incompleto.
Alguns professores zen foram famosos por proibirem os alunos de estudar antes de obterem um estado mental adequado, mas essa não é uma atitude geral.
Particularmente, creio que o estudo ajude, embora o interesse em discussões teóricas seja um grande obstáculo para os que se interessam por ele por vaidade, fato este para o qual Buda já advertiu há 2600 anos.
Quanto ao mestrado, no zen é importante a tradição da transmissão, uma sabedoria que se transmite pelo contato pessoal e permanece viva após milênios.
De outra parte, diria pela minha própria experiência pessoal que um mestre ajuda muito a sair de estados particulares. Por exemplo: alguns praticantes veem na meditação um método de relaxamento e tranquilidade. Crendo que é tudo o que pode ser conseguido e permanecem nesse estágio durante muito tempo. Isso é um uso errôneo das possibilidades da meditação budista. É uma técnica que não precisa do budismo para funcionar. O Budismo Zen tem como objetivo a iluminação, não a santidade ou a serenidade.
A prática pode ser solitária e ter a participação de professor em retiros ou ocasionalmente. É o que é feito normalmente no zen. No caso da prática em mosteiros, as entrevistas com o mestre são diárias e isso evidentemente propicia um progresso bem mais rápido, visto que o discípulo é instado a saltar os obstáculos constantemente.
Um outro ponto relevante é a prática com uma Sangha, ou seja, a prática em grupo: ela dá mais força e compromisso, ajudando os alunos a prosseguirem. Até onde sei, essa prática é comum em todas as formas de Budismo.
Fonte: Perguntas e respostas utilizadas nos ensinamentos da comunidade Daissen.