Acredito que todos devem conhecer o filme “Karate Kid”. Embora muitos conheçam a versão mais recente com Jackie Chan, de 2010, eu particularmente prefiro o clássico de 1984, o estrelado por Pat Morita. Em 2018 a Netflix lançou uma série chamada “Cobra Kai”, dando continuidade à história após os eventos do filme original (na verdade, uma trilogia).
Como alguns devem saber, eu sou um grande entusiasta do karatê. Quando jovem, eu treinava com grande dedicação, antes mesmo de conhecer o Budismo. O estilo de Karatê que eu praticava (e ainda pratico), chamado Kyokushin, havia sido fundado por Masutatsu Oyama.
Oyama treinou no Monte Minobu e em Kyosumi-dera, o local onde Nichiren Shonin se tornou monge. Quando decidi seguir o caminho monástico, recebi do meu mestre a letra ‘tatsu’ no meu nome de Dharma, a mesma presente no nome do fundador do meu estilo de karatê. Essas conexões inesperadas trouxeram ainda mais significado à minha prática e jornada, tanto no Caminho do budismo quanto no das artes marciais.
No filme, o dojo Cobra Kai ensina seus alunos a serem durões com o lema: “Ataque primeiro, ataque forte e não tenha piedade”. Isso me fez refletir: o que significa ser durão de verdade? O que é ser realmente forte?
O Capítulo 20 do Sutra do Lótus conta a estória do Bodhisattva Jamais Desprezar, que ia até as pessoas e as reverenciava dizendo, vocês vão se tornar Budas. Mas, vocês acham que ele falava isso para as pessoas que gostavam dele? Ou para as pessoas que ele era amigo? Ou para quem era fácil de falar? Não, ele saía da zona de conforto e se dirigia a lugares onde existia risco e se dirigia para essas pessoas falando “vocês vão se tornar Budas”. E as pessoas, então, agrediam ele com paus, pedras e o xingavam. E o que ele fazia? Ele chorava? Ele ficava desesperado? Ele perdia esperança? Não, ele só se afastava um pouco para não continuar apanhando e falava “continuo reverenciando vocês porque vocês vão mesmo se tornar budas”. Esse não é um ótimo exemplo de um “cara durão”?
Nosso Fundador, Nichiren Shonin, sofreu muitas perseguições e em algumas oportunidades quase perdeu a vida. E o que ele fez em todas essas ocasiões? Ele chorou? Ele se desesperou? Não, nada disso. Ele se manteve sempre resoluto em seus ideais e em seu desejo sincero de estabelecer o ensinamento correto que levaria a paz para todas as pessoas. Um exemplo de um verdadeiro “casca-grossa”.
Então, eu acredito que precisamos seguir esses modelos. Precisamos recitar o Daimoku para que nós mesmos nos tornemos “cascas grossas”, “durões” assim como Nichiren Shonin e como o Bodhisattva Jamais Desprezar. Claro, é muito difícil para nós copiarmos completamente exemplos heroicos tão grandiosos. Mas, nós podemos fazer o que conseguimos fazer da melhor maneira possível.
Quem tenta, nessa nossa sociedade que é tão corrompida por vaidades e egoísmos, manter acesa a chama dos valores do Sutra do Lótus dentro do coração é um “casca-grossa”.
Quem tenta ver o Buda, com todo o coração, não poupando a própria vida (Capítulo 16), é um “casca-grossa”.
Quem se dedica intrepidamente à prática e ao estudo em detrimento de prazeres e confortos é um “casca-grossa”.
Ser um casca-grossa não tem nada a ver com fazer bullying ou bater nas outras pessoas, como diz o lema do Cobra Kai. Tampouco tem a ver com violência e agressividade. Nada disso. É a convicção que não nos deixa dobrar perante as dificuldades e as circunstâncias que a vida nos impõe que nos faz realmente “cascas grossas”.
E você, quer também se tornar um “casca-grossa”?
Por Monge Yotatsu, Hokekyoji, Nichiren Shu
Fonte da imagem: Buakaw Banchamek, lenda do Muay Thai, bicampeão do K1 World MAX e monge budista por um ano.