As Ruínas de Gandhara – Paquistão

Gandhara foi um reino indiano antigo que fazia parte de uma região formada por 16 mahajanapada¹, no norte do Paquistão, leste do Afeganistão. Gandara era localizado principalmente no vale de Pexauar, no planalto Potohar (ver Taxila) e no lado norte do rio Cabul. Durante o período aquemênida e o período helenístico, sua capital foi Charsadda, mas posteriormente a capital foi transferida para Pexauar pelo rei cuchana Canisca I por volta do ano 127. As suas principais cidades foram Puruxapura (moderna Pexauar) e Taxasila (moderna Taxila).

 Mapa antigo da Índia da localização dos 16 Mahajanapadas, entre eles Gandhara

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mahajanapada¹:  Literalmente “grandes reinos” (de Maha, “grande”, e Janapada, “território de uma tribo”, “país”). Textos budistas antigos como o Anguttara Nikaya (I. pp. 213; IV. pp. 252, 256, 261) fazem referências frequentes a dezesseis grandes reinos e repúblicas que se desenvolveram e floresceram nas partes norte e noroeste do subcontinente indiano, anteriores à ascensão do budismo na Índia.

 

Gandara já existia desde o tempo do Rigveda (c. 1 500–1 200 a.C.), e foi conquistado pelo império aquemênida no século VI a.C. Conquistada por Alexandre, o Grande, em 327 a.C., em seguida tornou-se parte do império Máuria e então do Reino Indo-Grego. Como um centro do zoroastrianismo bactriano, hinduísmo e, posteriormente, greco-budismo, e famoso pela tradição na arte greco-budista, Gandara alcançou seu auge entre os séculos I e V, sob o Império Cuchana. “Floresceu como encruzilhada da Ásia”, conectando rotas de comércio e absorvendo influências culturais de diversas civilizações; o Budismo prosperou até o século VIII ou IX, quando o Islã começou a ganhar influência na região.

A região produziu os textos budistas Gandhāran escritos em Gāndhārī Prakrit, os mais antigos manuscritos budistas já descobertos (século I dC). Também foi o lar de uma cultura artística e arquitetônica budista única que combinava elementos da arte indiana, helenística, romana e parta. O Gandhāra budista também foi influente como a porta de entrada através da qual o Budismo se espalhou para a Ásia Central e China.

Com o tempo, Gandara foi absorvido pelo império de Mamude de Gázni. As construções budistas já estavam em ruínas e a arte de Gandara já havia sido esquecida. Depois de al-Biruni, o escritor caxemiriano Kalhana escreveu o seu livro Rajatarangini em 1148. Ele registrou eventos sobre Gandara, a sua última dinastia real e a sua capital Udabhandapura. A história e a arte de Gandara continuaram desconhecidas pelos habitantes da área e pelo resto do mundo até o século XIX, quando soldados e administradores britânicos começaram a ter interesse na história antiga do subcontinente indiano. Em 1830, moedas do período pós-Asoca foram descobertas. Charles Masson, James Prinsep e Alexander Cunningham decifraram a escrita caroste em 1838. Registros chineses indicaram os locais dos relicários budistas. Junto da descoberta de moedas, esses registros deram as peças necessárias para o quebra-cabeça da história de Gandara.

Em 1848, foram encontradas esculturas gandaranas no Norte de Pexauar. E em 1860 foi identificado o local de Taxila por Cunningham.  Daí em diante, uma grande quantidade de estátuas budistas foi sendo encontrada no vale de Pexauar. Marshal fez uma escavação em Taxila de 1912 a 1934. Ele descobriu cidades gregas, partas e cuchanas e um grande número de monastérios. Essas descobertas ajudaram a encaixar muitas mais peças do quebra-cabeça da cronologia da história de Gandara e da sua arte. Depois de 1947, Ahmed Hassan Dani e o Departamento de Arqueologia da Universidade de Pexauar fizeram várias descobertas nos vales de Pexauar e Suat. Escavações em muitos sítios da civilização de Gandara estão sendo feitas por pesquisadores de muitas universidades pelo mundo.

 

Entramos em contato com o arqueólogo pakistanês Muhammad Usman, para nos contar um pouco sobre as Stupas de Gandhara, relíquia Histórica do Budismo no Paquistão.

 

Por favor, nos fale um pouquinho do senhor o do seu trabalho.

Muhammad Usman: Sou um arqueólogo especialista no patrimônio cultural budista do Paquistão. Consultor turístico no Amazing Pakistan. Todos os anos, guio grupos de monges budistas de diferentes países do mundo que chegam a Gandhara. Estou neste campo há 30 anos.

Muhammad Usman guiando grupo de 38 membros de arqueólogos da Tailândia, antropólogos, curadores e historiadores de arte.

 

O senhor pode nos falar um pouco do Budismo em Gandhara?

Muhammad Usman: É um grande complexo arqueológico do Budismo Gandhāran referente à cultura budista do antigo Gandhāra, que foi um importante centro do Budismo no subcontinente indiano desde o século 3 aC até aproximadamente 1200 dC.

 

Como é o Budismo hoje no Paquistão?

Muhammad Usman: No passado, o Budismo era a religião principal de Gandhara, mas agora o islamismo é a religião principal.

 

Quais as principais áreas do sítio e mais relevante para o Budismo em Gandhara?

Muhammad Usman: Há vários sítios arqueológicos em ruínas, stupas budistas, mosteiros e templos dentro de Gandhara, o sítio mais importante e bem preservado é o mosteiro de Takht-i-Bahi. Este é um importante mosteiro budista Takht Bhai em Mardan, Paquistão, um Complexo Arqueológico completo datado do século I DC ao século 7 DC, o qual foi descoberto em 1836. Takht-i-Bahi foi listado como Patrimônio Mundial da UNESCO em 1980. É o sonho de todo budista visitar aqui e realizar rituais no local. O Mosteiro de Takht-i-Bahi possui um templo principal de stupa, células de meditação de estupas votivas e aposentos.

Mapa de localização das estupas de Mandar e Taxilia no Paquistão do complexo de Gandhara

 

Estupas 

Estupa ou “Stupa” é uma palavra em Sânscrito que significa “monte”, um monumento sepulcral, um local de enterro ou um receptáculo para objetos religiosos Budistas. Em sua forma mais simples, a estupa é um montículo de terra para sepultamento revestido com pedra.

Também são chamadas  chörten, chaitya, chedi, pagode e dágaba. Conforme o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, uma estupa é um monumento construído sobre os restos mortais (geralmente cremados) de uma pessoa importante dentro da religião budista. Tem o formato de torre, geralmente cônica, circundada por uma abóbada e, por vezes, com um ou vários chanttras (toldos de lona). Com o tempo, evoluiu para uma representação arquitetônica do cosmo.

As estupas primitivas continham porções das cinzas de Buddha, e como resultado, a estupa começou a ser associada ao corpo de Buda, representando a figura do Buddha sentado em Meditação, onde a Base da stupa são as pernas cruzadas e o topo a Cabeça de Buddha. Acreditavam que acrescentar as cinzas de Buddha ao monte de terra o ativava com a energia do próprio Buddha. As mesmas eram adoradas antes do surgimento das imagens de Buddha influenciadas pela cultura Grega, que hoje são utilizadas como objeto de prática meditativa.

A prática de construir estupas espalhou-se com a doutrina Budista no Nepal e no Tibete, Butão, Tailândia, Mianmar, China e até mesmo nos Estados Unidos, onde grandes comunidades budistas se estabeleceram. Embora as estupas tenham mudado sua forma ao longo dos anos, sua função permanece essencialmente inalterada. As estupas lembram ao praticante do Budismo o Buddha e de seus ensinamentos quase 2.500 anos após sua morte.

 

Estupas de Takht-i-Bahi

 

Takht-i-Bahir  séc 2 dC.

 

Takht-i-Bahir hoje, Mardan, Paquistão

Imagem de Muhammad Usman: Takht-i-Bahir hoje, Mardan, Paquistão

 

As ruínas estão localizadas a cerca de 15 quilômetros (9,3 milhas) de Mardan, Paquistão na Província Khyber-Pakhtunkhwa. Uma pequena cidade fortificada, datada da mesma época, fica nas proximidades. Antes remoto e pouco visitado, o local agora tem uma estrada e um estacionamento, localizados abaixo das ruínas, e se tornou popular entre os visitantes.

A origem do nome Takht-i-Bahi é incerta. A crença local postula que o nome vem de dois poços na colina, ou nascentes próximas. Em persa, Takht significa ‘topo’ ou ‘trono’, enquanto bahi significa ‘nascente’ ou ‘água’. Quando combinados, seu significado é ‘nascente do topo’ ou ‘alta primavera’, e havia duas nascentes no topo das montanhas. Outro significado sugerido é ‘trono de origem’.

 

Depois do Mosteiro Takht-i-Bahi temos também as Stupas de Taxila, elas fazem parte desse complexo?

Muhammad Usman: Como um todo, Taxila fazia parte de Gandhara. Dharma Rajika stupa está situado na cidade de Taxila, Paquistão, localizada a leste de Gandhara, e é principal Stupa de Taxila.

 

Estupa de Dharma Rajika

 

O Dharmarajika Stupa, também conhecido como o Grande Stupa de Taxila , é um stupa budista perto de Taxilia, Paquistão . Ele data do século 2 dC, e foi construído pelos Kushans para abrigar pequenos fragmentos de ossos de Buda. A estupa, junto com o grande complexo monástico que mais tarde se desenvolveu em torno dela, faz parte das Ruínas de Taxila – que foram inscritas como Patrimônio Mundial da UNESCO em 1980.

 Dharmarajika Stupa Atualmente, em Taxilia, Paquistão.

Planta de Dharmarajika Stupa

Imagem de Muhammad Usman: Dharmarajika Stupa atualmente, em Taxilia, Paquistão.


Imagem Wikipédia: Estupa Shanti, inaugurada em 1991 pelo 14.º Dalai Lama, em Lé, na Índia.

 

Entrevista e tradução: Elaine Kôhô. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

 

Fonte:

https://pt.khanacademy.org/humanities/approaches-to-art-history/understanding-religion-art/buddhism-art/a/the-stupa

https://en.wikipedia.org/wiki/Takht-i-Bahi

https://en.wikipedia.org/wiki/Dharmarajika_Stupa

https://pt.wikipedia.org/wiki/Estupa_Shanti

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