Arrume as malas para retornar

 

Quase todos nós temos um certo prazer em arrumar nossas malas para uma viagem.

Antecipar os momentos que serão vividos nos traz certa lucidez, e paramos para organizar nossas coisas para que estejamos prontos para enfrentar (ou desfrutar) todos os instantes que virão. O que levar, o que não levar? Fará frio ou calor? Minha mala está pesada demais?

Mas quantos de nós refazemos o processo na volta para casa?

Talvez, como eu, você tenha o mesmo hábito de simplesmente jogar tudo de volta na mala na hora de retornar. As roupas sujas, que nos serviram tão bem, são mal dobradas ou simplesmente emboladas e amassadas, sendo comprimidas em sacos plásticos ou socadas em algum canto. Deixamos tudo para a última hora e reservamos, quando muito, algum mínimo cuidado para os souvenires que compramos. Invariavelmente temos a sensação de que nossas coisas dobraram de volume. Como é que isso tudo coube nessa mala na vinda?

Pois é, muitas vezes tratamos nossas próprias mentes como essa mala. Gostamos de pensar em estratégias, resoluções e atitudes que desejamos cultivar ao iniciar um novo ano ou até mesmo uma nova semana. As segundas-feiras são sempre lotadas nas academias e nos restaurantes de comida saudável. As agendas quase sempre começam com reuniões de alinhamento bem organizadas.

Mas, você já deve ter imaginado como essa narrativa termina. Ao final do dia, retornamos para casa esbaforidos, maltrapilhos e desarrumados. Deixamos de lado aquilo que queríamos fazer à noite e nos entregamos às redes sociais, às séries ou a qualquer entretenimento fútil que nos traga algum falso alívio. A bagagem de volta sempre é mal arrumada. E na próxima jornada temos que recomeçar tudo do zero.

Uma coisa que aprendi com o Zen é que, para não sucumbirmos ao emaranhado de estímulos, ruídos e distrações do mundo, precisamos cultivar a virtude da atenção plena em todas as ações do cotidiano. Por isso, praticamos  meditação árdua e diligentemente. Para que tragamos essa mente para o dia a dia. Para que possamos, gradativamente, deixar de sermos levados de um lado para o outro pelos ventos das ilusões.

Partida e chegada são a mesma coisa 🙏🏻

 

Gustavo Jiryu, DaissenJi, Soto Zen

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