Ao buscarmos um caminho espiritual, geralmente, experimentamos várias tradições e escutamos muitos professores. Ao encontrar o Zen buscamos um grupo de prática, que no Budismo chamamos de sangha ou Comunidade, composta de praticantes, monges e leigos, que juntos trilham o Caminho de Buda.
A prática no Zen-budismo é baseada no zazen, que significa sentar em silêncio, com nós mesmos, onde deixamos repousar a mente. Sem focar em nada. Sem procurar nada.
É junto a esta Comunidade que recebemos as primeiras instruções e os primeiros ensinamentos, e iniciamos na prática. Seja esta comunidade física ou virtual, a sangha nos dá energia, nos dá apoio e temos a oportunidade de receber os ensinamentos do Dharma diretamente de um professor e tirar dúvidas, tanto da prática em si como da doutrina. Praticar em grupo é mais fácil que sozinho, nosso compromisso com o outro é mais forte que com nós mesmos. A Comunidade passa a ser uma grande família onde compartilhamos as dificuldades e alegrias, que somente quem segue o mesmo caminho consegue realmente compreender em profundidade.
À medida que avançamos, sentimos a necessidade de aprofundar mais, de ir mais longe. Para isso é imprescindível à prática diária, surge à necessidade da prática individual, em casa, sem o grupo. Este passo é muito importante, pois o zazen passa a outro patamar. Ao praticarmos sozinhos temos a oportunidade de observar a prática de outro ângulo e começamos a cultivar a energia, a luz dentro de nós. Essa força que nos leva a sentar em zazen, a ir mais fundo no zazen e ir ao despertar.
A prática em casa, se inicia na escolha de um lugar, um pequeno espaço onde podemos nos observar, olhar para dentro de nós. É preferível um local calmo, seja dentro de casa ou ao ar livre. Pode ser um lugar fixo ou um lugar onde montamos para a prática e logo desmontamos. De preferência de frente a uma “parede branca”, que não significa ser literal, significa ficar de frente a um lugar onde tenhamos menos estímulos visuais possíveis.
O simples ato de limpar e arrumar esse cantinho, com atenção, com dedicação e carinho, nos aproxima da prática, acalmando a mente, já é a própria prática. Nele colocamos um pequeno tapete ou zabuton que vai dar conforto aos joelhos e as pernas ao sentar. Sobre ele colocamos uma almofada própria para o zazen, a qual chamamos de zafu, ou o banquinho de zazen. (*). Quem não tiver esses instrumentos poderá usar uma cadeira ou banco, esta deve ser de preferência sem apoio de braços e deixar a altura do quadril um pouco acima da altura dos joelhos podendo ajustar com a ajuda de almofadas ou cobertores dobrados, a coluna deve ficar ereta, sem encostar no apoio da cadeira.
A quem prefira montar um pequeno altar, onde podemos acender uma vela e fazer oferenda de incenso que também servem para ambientar nossa prática. A luz da vela ilumina de forma confortável, sem ficar nem muito claro, nem muito escuro o local. O incenso ajuda a acalmar a mente.
Logo estabelecemos uma rotina, ou seja, dia, horário e tempo de prática. Pode ser pela manhã, à tarde ou à noite. Escolha um horário possível de acordo com sua rotina, não um idealizado. Pode começar com poucos minutos, como por exemplo 10 minutos, e depois vá aumentando conforme sentir necessidade. Na Comunidade Daissen fazemos períodos de 20min para iniciantes e de 40minutos para quem já está praticando algum tempo. Poderá usar o App Zen Daissen (**) para controlar o tempo ou utilizar algum outro similar. É preferível fazer todos os dias 10 minutos que dois dias 20 minutos. Esforçamo-nos para sermos fieis ao nosso propósito, nesse momento, nada é mais importante que a prática. O cumprir com essa rotina estabelecida, nos ajuda a priorizar o zazen. Muitas vezes, vamos sentir vontade de sair correndo, de abandonar nossa almofada. Vamos buscar muitas desculpas para não sentar ou levantar antes do tempo. A recomendação é cumprirmos com o proposto, sem pensar, sem cogitar, aconteça o que acontecer. Neste momento já estamos deixando de lado nosso “eu”, estamos treinando a nossa a mente a não permitir que os nossos impulsos kármicos nos levem para aqui ou para lá.
Escolha algumas das posturas de zazen indicada pelo seu instrutor ou que estão no App Zen Daissen. O importante é ficar firme no chão, com a coluna ereta e a musculatura relaxada. Deixamos os olhos abertos ou semicerrados e a visão numa inclinação de 45 graus. Os ombros para trás e o queixo para baixo, o peito aberto, o que permite a abertura do diafragma e facilita respiração. Colocamos as mãos sobre o colo, em forma de mudra cósmico (as costas dos dedos da mão esquerda repousando sobre os dedos da mão direita e a ponta dos polegares se tocando suavemente ficando uma forma oval). Fazemos três respirações profundas completas e conscientes soltando todo o ar pela boca, depois fechamos a boca e respiramos de forma natural pelas narinas.
Deixamos os pensamentos irem e virem, sem me deter ou expulsar, sem julgar o cogitar. Simplesmente voltamos ao momento presente a cada instante e a cada momento. Este instante é tudo o que temos. Corpo e mente em perfeito silêncio, sendo um com todas as coisas.
Quem preferir pode fazer o kinhin, que é uma meditação em movimento. Este pode ser de 5 ou 10 minutos, onde damos um passo com cada respiração, mantendo a postura ereta e a mesma mente de zazen, e geralmente caminhamos em círculo.
Ao terminar a prática, podemos recitar os Três Refúgios:
Tomo refúgio no Buda
Tomo Refúgio no Dharma
Tomo Refúgio na Sangha
Tomo refúgio no Buda o maior dos mestres
Tomo refúgio no Dharma o ensinamento supremo
Tomo refúgio na sangha lugar de harmonia
Tomei refúgio no Buda
Tomei refúgio no Dharma
Tomei refúgio na Sangha
Para finalizar, deixemos o local em ordem e limpo. Fazendo tudo com muita atenção e cuidado. Mantendo o silêncio dentro de nós.
A prática diária e constante é que vai nós permitir esquecermo-nos de nós mesmos, e esquecer-se de si mesmo é ser iluminado por todas as coisas.
Texto de Monja Sodô. Monja zen budista na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
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(**) Para baixar o App Zen Daissen clique AQUI