O retiro se inicia quando os preparativos começam a tomar nosso dia a dia. Desde a escolha do local até, efetivamente, o momento em que o último participante deixa a Casa que nos recebe, isso, para nós, compreende o retiro.
A cada desejo de que “Deus nos abençoe” até os pedidos que nos são feitos “por caridade”, em toda troca de mensagem, ajuste de detalhes, em tudo se percebe a devoção espiritual a um Caminho que com o nosso se cruza; o Caminho de que todos os seres alcancem a paz.
As vestes azuladas de trabalho na jardinagem, que as irmãs portam constantemente, mostram-nos, também, como o cuidado com todos os seres, pássaros, cachorros, flores, terra, também se assemelham aos nossos e, ainda, são formas de respeito com que também aprendemos.
No dia de início do retiro, temos o privilégio de conhecer a Abadessa – quem não havíamos encontrado da última vez, pois estava em viagem. Uma das primeiras coisas que nos diz é que “São Bento enxerga os hóspedes como se fossem o próprio Senhor Jesus adentrando nossas casas”.
Nossa natureza humana nada mais é do que a natureza divina que deveríamos sempre reconhecer uns nos outros.
A nossa capacidade de amar sem nada em troca receber é a mesma que Buddha teve quando, depois de alcançar o seu Despertar, decidiu-se compassivamente por continuar a ensinar o Caminho, até sua morte, dando testemunho da verdade. E é a mesma de quando em direção ao ribeiro do Cedrom, Jesus, em oração, diz, sabendo que seria em breve morto, que não rogava apenas por aqueles discípulos que estavam lá com ele, mas também por aqueles que um dia viriam a nele crer (João 16).
Com o passar dos dias, compartilhando aquele mesmo espaço, vivendo o silêncio, a sabedoria e a clareza vão nos adentrando. E olhando nossos irmãos comendo quietos, andando sem conversar, varrendo silenciosamente, meditando é possível entender que “até o insensato passará por sábio se ficar quieto e, se contiver a língua, parecerá que tem discernimento” (Provérbios 17:28).
E de tanto treinarmos uma certa mente, uma postura mental, tornamo-nos tal atitude. No início, apenas imitamos os mestres com suas condutas elevadas, até que, de tanto, repetidamente, assim agirmos, ao final, transfiguramo-nos.
Na tarde anterior ao final do retiro, fomos convidados a assistir às Vésperas, e pudemos compartilhar com as Irmãs um momento de intensa devoção. As vozes tão perfeitamente impostadas, embalados pelos versículos, confortados pelas preces, lá estávamos todos, juntos.
Quando imaginaríamos que estaríamos sentados lado a lado com as irmãs beneditinas? Como diz Saikawa Rōshi – o mestre de Genshō Rōshi – “A vida se mostra a cada passo”. E a vida tem em si uma perfeita sabedoria e ciência em seu desenrolar, difíceis de serem previstas. Como a passagem bíblica que a Abadessa, naquela tarde, proferiu: “Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Romanos 11).
Por Monja Kakuji, Monja na Daissen Ji. Escola Soto Zen.