O Olhar do Outro no Caminho do Zazen por um Leigo


Recentemente, ao navegar pelo perfil do Zen Budismo Florianópolis no Instagram, me deparei com um texto que falava sobre sermos um com todo o Universo, tive algumas reflexões que me tocaram profundamente e me trouxe insights que conectei com a prática do zazen.

Por isso escrevi esse texto pensando que na vida cotidiana somos constantemente influenciados pelo olhar do outro, onde desde cedo aprendemos a moldar quem somos com base na expectativa alheia, um processo que começa na pré-formação e segue, de certa forma, até depois de nossa formação como indivíduos porque crescemos, muitas vezes, medindo nosso valor pelo reflexo que vemos nos olhos de quem nos observa.

Com a prática de zazen tive a experiência de mudar a perspectiva e o comportamento completamente de grão em grão e durante a prática os pensamentos que surgem como o fluxo contínuo de um rio sendo alguns são agradáveis, outros nem tanto, no entanto, nenhum deles importa verdadeiramente.

Eles vêm e vão e como sempre me lembro de Genshô Roshi,’’ os pensamentos devem ser como nuvens atravessando o céu’’ reforçando que a prática não está em segurá-los ou rejeitá-los, como acredita-se no mainstream, mas em simplesmente estar presente com o que é sem criticá-los, analisá-los ou dar minha opinião sobre eles. 

Foi a partir desse entendimento que lendo a publicação do Instagram, percebi algo essencial sobre o olhar do outro, assim como os pensamentos durante o zazen, ele também não importa. Ele surge, se manifesta e desaparece, existindo apenas em um “mundo menor”, um mundo dualizado que habitamos quando nos apegamos à separação entre “eu” e “outro”.

Ao aprofundar a prática, percebi que o eu e o outro não estão separados porque da mesma forma que a mente e o corpo se tornam um só durante o zazen, o eu e o outro são manifestações de uma mesma realidade. Como o próprio Roshi ensina sobre mundo absoluto e mundo relativo, eu entendo hoje que com a prática da visão do mundo do absoluto, as barreiras se dissolvem.

O que acreditava ser sólido e fixo, coisas como nossa identidade, nossas máscaras, se revela fluido, flexível e parte de um todo inseparável como uma grande gelatina cósmica que hospeda tudo e todos em sua massa rígida, mas também mole. 

Assim, refletindo aqui pude perceber que o olhar do outro, portanto, é apenas mais uma camada dessa gelatina onde não determina quem somos, pois assim como o corpo e a mente encontram unidade na prática de zazen, também encontramos um sentido de unidade com todos ao nosso redor. 

Parece que já tive esses pensamentos ou que ouvi por aí, mas sentir isso e aprofundar essa reflexão me trouxe para um significado novo que perceber isso não significa que devemos ignorar ou desprezar o olhar do outro, pelo contrário, ele pode ser uma oportunidade para praticar a compaixão e o entendimento.

Baseado nisso, podemos lembrar que esse olhar não nos define, assim como os pensamentos que surgem durante o zazen não definem nossa verdadeira natureza já que o zazen nos convida a ampliar a visão, a transcender o pequeno mundo dualizado para acessar uma dimensão maior, onde tudo é interconectado.

Espero que essas reflexões possam ressoar iguais aos anéis de água em um lago, quando caem os primeiros pingos de chuva, com aqueles que, como eu, encontram no zazen um caminho de libertação: um espaço onde somos convidados a deixar de lado as armadilhas do ego e a habitar plenamente o aqui e agora.

Por Bruno Contardi, DaissenJi, Soto Zen

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