O Buda Eterno: Encontrando a Presença Viva do Buda Shakyamuni no Pico da Águia Sagrada


No Budismo da tradição Nichiren, à qual a Kempon Hokke Shu pertence como uma das escolas tradicionais e fiéis aos ensinamentos de Nichiren Shonin, a concepção do Buda como uma presença eterna é um fundamento que transforma profundamente a prática e a visão budista. 

Em contraste com outras tradições que consideram que o Buda entrou em extinção com seu Parinirvana, cerca de 80 anos após seu nascimento, acreditamos que o Buda Shakyamuni continua a ensinar diretamente em uma dimensão além do tempo e do espaço, no Pico da Águia Sagrada (Monte Gridhrakuta), conforme revelado no capítulo 16 do Sutra de Lótus, conhecido como “A Duração da Vida do Tathagata.” Esse ensinamento possui uma carga doutrinária rica e poderosa, trazendo uma nova visão sobre a própria essência da iluminação e o propósito da prática budista. 

Em vez de ver o Buda Shakyamuni apenas como uma figura histórica que viveu, ensinou e eventualmente deixou este mundo, passamos a percebê-lo como uma força viva e ativa, uma fonte de sabedoria e compaixão que continua atuando para o benefício de todos os seres sencientes. 

A forma primordial do Buda, revelada no Sutra do Lótus, expressa o seu compromisso eterno com a salvação de todos aqueles que buscam o Dharma. Essa visão tem diversas implicações reveladoras. Uma delas é que a prática budista não se limita a uma simples memorização de ensinamentos antigos. Ao contrário, ela é uma oportunidade de nos conectarmos diretamente a essa força viva, como se estivéssemos ouvindo o Buda nos ensinar aqui e agora, no mundo sahā e na condição em que nos encontramos: sábios, tolos, ricos ou pobres, todos, sem distinção, podem ouvir seus ensinamentos. 

A noção de um Buda eterno também nos oferece um refúgio de fé que é inabalável e universal, pois sua presença transcende as barreiras temporais e espaciais, permanecendo disponível a todos os que o buscam, independentemente de sua época ou localização. 

Para os praticantes da nossa escola, essa visão oferece uma motivação renovada é uma fonte constante de inspiração. Recitar o Daimoku (Namu Myōhō Renge Kyō, o título sagrado do Sutra do Lótus), bem como preservar e propagar esse Sutra, são meios pelos quais podemos estabelecer uma relação direta com essa sabedoria que, conforme acreditamos, ainda ecoa do Pico da Águia Sagrada. 

Essa prática se torna uma lembrança contínua da presença do Buda, não como uma memória distante, mas como um guia ativo e presente, cujo papel é iluminar o caminho para nossa própria iluminação. Em termos práticos, essa compreensão nos ajuda a enfrentar as adversidades com resiliência e coragem. Quando nos deparamos com obstáculos e sofrimentos, lembramos que não estamos sozinhos — o Buda Shakyamuni, em sua essência primordial, está ao nosso lado, oferecendo suporte e orientação. 

A prática do Daimoku e a recitação do Sutra de Lótus tornam-se formas de acessar essa energia transformadora, que não só nos guia, mas também nos sustenta nos momentos de dificuldade. Além disso, essa crença implica que nossa prática não é apenas para nós, mas também um meio de gerar benefícios e compaixão para todos os seres. 

Ao seguirmos os ensinamentos do Buda primordial, estamos contribuindo para a propagação do Dharma e ajudando a construir um mundo onde todos possam alcançar a iluminação. A prática, portanto, torna-se um ato de benevolência e de compromisso com o bem-estar de todos os seres sencientes, refletindo o mesmo espírito compassivo que o Buda revelou no Sutra de Lótus e em consonância com o caminho do Bodhisattva, tão enfatizado em todo o Sutra. 

Assim, ao refletirmos sobre a visão de extinção do Buda — um meio habilidoso aplicado para um determinado público de sua época — e a visão de sua presença eterna, somos conduzidos a uma nova perspectiva de transformação interior e a uma prática engajada. 

Compreender o Buda como uma presença viva nos incentiva a desenvolver uma fé vibrante, não baseada apenas em devoção ao passado ou em uma negação de nossa vida, sentimentos e sensações, mas em uma relação presente e dinâmica com uma sabedoria que transcende o tempo e o espaço. 

Em resumo, a prática na tradição Nichiren, que nós da Kempon Hokke abraçamos, não é apenas uma repetição ritualística, mas uma vivência diária de um diálogo com o Buda eterno, que nos orienta e inspira. 

Dessa forma, manter o Sutra do Lótus e acreditar no Buda Eterno Shakyamuni, esse Buda primordial que jamais entrou em extinção, não é apenas uma questão de doutrina, mas uma experiência de fé ativa — uma prática que transforma nossa visão da vida, do sofrimento e do caminho para a iluminação. 

Por Shami Shimpaku Espindola, Budismo Nichiren, Kempon Hokke

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