Entrevista Monge Hondaku – Meditação em Pauta

Nesta edição trazemos o ponto de vista da Escola Terra Pura sobre meditação. Monge Hondaku, generosamente, irá nos conduzir pelos ensinamentos e caminhos de liberdade utilizados no Budismo Shin.

Monge Hondaku é um monge longe dos estereótipos. É empresário, pratica esportes, palestrante motivacional e é um monge que adora rock’n’roll, tatuagens, bike de estrada, um bom papo com amigos, ele é casado e com filhos. Pertence à Ordem Shinshu Otani – Higashi Honganji. É o primeiro monge brasileiro convidado a fazer uma série de artigos para a Revista Tricycle, principal revista budista do mundo.

 

O senhor poderia nos contar um pouquinho da sua trajetória no Budismo, até se tornar monge?

Monge Hondaku: Bom, eu comecei a estudar o budismo muito cedo, talvez com 13, 14 anos, ou até um pouco antes. Agora eu tenho 52 anos, então já faz um certo tempo. Eu costumo dizer que comecei comprando um livro do D.T. Suzuki – Introdução ao Zen Budismo. Comprei o livro, um livro fininho né, e eu lembro que eu li o livro, eu com 13, 14 anos, eu li o livro e entendi muito pouco do livro. Mas o livro me gerou muitas perguntas, muito questionamento.

Na época, eu fazia parte de um encontro de jovens católicos em um colégio aqui em São Paulo, o Colégio Cristo Rei. Eu era muito dedicado, sempre gostei de coisas espirituais, sempre me liguei em coisas vamos dizer assim, ocultistas, espirituais, desde que eu me conheço por gente eu gosto dessas coisas estranhas. E isso me levou a grandes questionamentos religiosos, né? Eu fui para esse encontro de jovens a convite de umas amigas. Meus pais não eram religiosos nem um pouco, contudo eu sempre gostei de explorar a espiritualidade. Mas o Budismo (o Suzuki né?) ele me desafiou quando falava ali de karma, quando falava de que nós somos responsáveis por tudo aquilo que acontece conosco e deixando entender. Ele não fala isso diretamente no livro, mas o Suzuki é um cara que quando veio do Japão para os Estados Unidos ele tenta dourar muito o budismo; ele tenta aproximar o budismo do cristianismo, então ele nunca iria afirmar que não existe Deus no budismo, explicitamente. Mas ele deixa a entender ali no livro.

Isso gerou um conflito na minha cabeça, mas fazia extremamente muito sentido pra mim naquele momento porque eu já questionava essa figura desse demiurgo, né? Então, eu comecei a fazer grandes questionamentos até que eu fui convidado a me retirar do tal encontro de jovens porque eu estava fazendo muita pergunta incômoda. E aí eu não parei mais de estudar. Só que naquela época (não é da sua época ou da maioria que vai ler isso daqui, a gente não tinha internet), a gente tinha uma coisa chamada lista telefônica. Lista telefônica era um livro grosso, imenso, com milhares de páginas no qual a gente procurava as coisas, endereço, telefone, tal. E eu acho que tentei, mas nunca achei algo falando sobre templo budista, e eu terminei estudando por mim mesmo, comprando livros e tal, até quando eu tinha mais ou menos uns, já mais velho ali, talvez uns 23, 24 anos, e aí a gente já tinha internet.

Eu comecei a aprofundar os meus conhecimentos com internet, bem nos primórdios da internet e eu terminei encontrando uma lista, uma lista de budismo chamada L, que era gerenciada pelo Ricardo Sassaki, do Nalanda, lá em Belo Horizonte. E ali praticamente começou o que é hoje o budismo contemporâneo no Brasil. Nessa lista, que se chamava Budismo L., estava ali Genshô sensei, Wagner, Ricardo, Jean, Guilherme, eu… Estavam todos lá porque a maioria das pessoas que hoje são monges ou lamas (estava o Orlando, que é o Lama Tartchin)l estavam todos ali.

E eu conheci o Elton, que tinha um projeto de criar um site, criar um portal budista, que era o Dharmanet, e ele precisava de ajuda e eu terminei ajudando. Então, a gente registrou o domínio e foi praticamente um dos primeiros sites sobre o assunto. Ah, foi o primeiro portal budista na internet em português, que congregava praticamente todas as escolas tradicionais. Então ali a gente copiava pedaços de livros, publicava textos e anunciava eventos, cursos, tudo era ali: virou um grande centro de informação do budismo no Brasil.

Aí, nessa época, eu comecei a frequentar o budismo tibetano, porque descobri que era do lado da minha casa, aí eu terminei indo para lá, eu tomei refúgio no no Odsal Ling. Depois, por causa do Dharmanet, a gente teve uma ideia de entrevistar a reverenda Sinceridade lá no Templo Zulai; ela nem está mais lá, perdi o rastro dela, não sei por onde ela anda, sei que ela saiu daqui do Brasil depois ela foi pra Malásia e eu não sei mais o que aconteceu… Bem, eu me encantei com a doutrina da Terra Pura, a doutrina chinesa do Ch’an.

Aí o interessante é o seguinte: a reverenda Santidade não falava fluentemente português, na verdade ela falava um português ótimo, mas não era o suficiente para dar aula de budismo. Ela dava aula de meditação somente. E aí ela me convidou para começar a fazer cursos de Budismo Teórico. Aí eu comecei a dar aula de Budismo Teórico lá e aí por coincidências da vida ou não, eu terminei conhecendo outra linha budista. Quando eu tinha 18 anos, fui numa palestra do monge Gustavo Shogyo do Nichiren Shin Hongwanji. Ele era muito amigo do pai de um amigo meu, eu fui ver uma palestra dele, mas eu perdi o contato dele, eu perdi o rastro. Aí um dia, na escola da minha filha mais velha, eu olho para o lado, ele estava do meu lado ali. As nossas filhas estudavam juntas e eu nem sabia. E aí me apresentei pra ele, começamos a conversar e ele me convidou pra ir pro Nishi Hongwanji que é o Terra Pura de origem japonesa, que eles estavam aí no programa de atrair brasileiros tal, eu terminei que fui pra lá, terminei dando aula lá, fiz um monte de eventos, mas não deu certo de eu me ordenar lá, e eu terminei recebendo o convite do Higashi Hogwanji da Ordem ShinShu Otani pra ir pro Higashi Hogwanji que é uma ordem irmã e aí eu terminei me ordenando há no Higashi Hogwanji: completando atualmente 10 anos de ordenação e 40 anos de senda budista.

O senhor poderia falar um pouco mais sobre a escola que você é monge hoje, que é o Budismo Shin, E explicar um pouco que Budismo é esse. Porque a gente entende que existem muitas possibilidades, então para que os leitores que vão chegando verem que existem essas possibilidades e escolherem, explorarem o que eles quiserem.

Monge Hondaku: Eu acho que nós somos muito afortunados aqui no ocidente porque nós temos essa opção de escolha. O que não é muito comum nos países do oriente, mesmo nos países budistas. Se a gente olhar o Japão por exemplo, no Japão cada família termina muito estabelecida numa escola e isso aí vem da tradição da história do budismo no Japão. Até porque em alguns séculos houve uma interferência do estado no budismo que obrigou as famílias a se filiarem a templos, pra você ter um controle populacional ali, controle social etc. Para que o governo tivesse um controle social, ele obrigou as famílias a se conectarem aos templos. Isso virou uma tradição, que é rompida às vezes, mas é difícil.

Então, geralmente as famílias estão associadas a uma determinada escola budista. Isso também é verdade nas escolas tibetanas, onde você também tem uma associação dessa porque como você tem essa conexão do guru, do aluno, do mestre, do praticante, historicamente nas famílias as pessoas nascem dentro de uma escola determinada. Então, nós aqui no ocidente temos bastante sorte, porque a gente pode escolher. E eu sou muito partidário de que as pessoas peregrinem pelas escolas antes de escolher. Eu fiz isso, muitos dos monges fizeram isso.

Se pegarmos aí o primeiro monge budista brasileiro, que é o Ricardo Mário Gonçalves, ele foi do Shingon, depois ele foi pro Zen, ele passou pelo Shu Gendo um tempo, terminou no Shin até ele falecer. Mas ele também peregrinou, né, o Wagner Akoshinki já faleceu também, ele também foi um cara que peregrinou, eu peregrinei, Genshô não. Genshô sempre esteve ali mais focado no Zen, então ele não, ele foi um dos poucos que não deu uma peregrinada né, mas ele conhece muito bem todas as escolas, então isso é ótimo.

Falando especificamente do Shin, o budismo Shin é na verdade a escola de nome Jodo Shinsh. É a verdadeira escola da Terra Pura, que tem como seu patriarca principal Nagarjuna também, como a maioria das escolas Mahayana e ela foca numa visão de um Buda Transcendental, chamado Buda Amida. Esse buda tem o nome em sânscrito é o Buda Amitabha ou Buda Mitayos que você encontra descrito nas religiões, nas escolas esotéricas, tanto no budismo japonês, como no budismo chinês e no tibetano.

Se você olhar o budismo tibetano, o Buda Amitabha e o Buda Mitayos são muito presentes em várias práticas. Muita gente fala “Pô, mas quem é esse Buda Amida”? Então eu falo, bom, é mais popular do que você pode imaginar, né? São três sutras que são a base da nossa escola, que é: o Sutra de Amida, o Sutra da Vida Infinita e o Sutra da Contemplação. Então essa escola tem métodos um pouco diferentes porque ela está baseada em algumas visões. Primeiro é um renascimento numa Terra Pura, depois dessa vida você renasce numa Terra Pura e ali naquela Terra Pura você se ilumina e segue para o Nirvana. E um dos meios de você atingir isso é você desenvolver uma coisa que chama de Shinjin, que é o Coração Confiante. Que, analogamente no Zen, chama-se Satori.

E a gente tem uma fórmula, vamos dizer, não é um Darani, não é um mantra, costumo dizer que é uma fórmula chamada Nembutsu ou Buddhanussati em pali ou Buddha Anusmriti em sânscrito, que é uma saudação ao Buda que é: Namu Amida Butsu. Então geralmente a gente junta as mãos e fala: Namu Amida Butsu, Namu Amida Butsu, Namu Amida Butsu. Mas tudo isso pode parecer um pouco devocional (eu não gosto quando as pessoas falam que o Budismo Shin é devocional), porque todo budismo é devocional.

E quando você fala assim “ah, mas no budismo Shin você está adorando o Buda Amida” esse é um erro de interpretação, esse é um erro crasso de estudo, né? Primeiro que a palavra nembutsu quer dizer atenção plena. Butsu quer dizer Buda, então primeiro é tomar atenção no Buda, prestar atenção no Buda; toda escola budista presta atenção no Buda, né? Então não tem diferença nenhuma. Namu Amida Butsu: Butsu quer dizer Buda Amida, é o nome do Buda Namu vem de Namas, vem de saudação. Então, Nami Amida Butsu nada mais é do que: Eu saúdo o Buda. Só que saudar esse Namu é a mesma coisa de Namas de Namastê. Namastê tem uma tradução horrível que fala: o Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você. Eu não sei como é que tanta palavra cabe em duas, que é Namas e . Namastê quer dizer eu te saúdo, então é assim, é: oi. Namastê quer dizer oi, basicamente. Então quando você fala Namu Amida Butsu você está dizendo: oi Buda. E por que você faz isso? Lembra que é prestar atenção no Buda? É prestar atenção na corporificação do Dharma, então em última instância quando você recita o Nembutsu é como se você estivesse prestando atenção no Buda, você tá se lembrando do Buda.  Quando você se lembra do Buda, você se lembra dos exemplos e dos ensinamentos do Buda e onde estão calcados estes ensinamentos? No Dharma.

Então, até agora não tem diferença nenhuma doutrinária, em nenhuma outra escola, né? Nenhuma, absolutamente nenhuma. O budismo tem isso e ele nasce quando? Ele nasce na mesma época do Zen, do Soto Zen, né. Ele nasce na mesma época do Soto Zen, da Nichiren Shu, da Jodo Shu que são os Quatro Grandes de Kyoto, que eu costumo dizer que era Shinran que era o fundador da Jodô Shinshu, Honen que é o fundador da Jodô Shu e Nichiren que é o fundador da Nichiren Shu. Todos eles eram mais ou menos contemporâneos, Nichiren era o mais novinho, ele não conheceu os outros, mas Shinran e Dogen quase que se conheceram ali, são mais próximos. Honen era mais velho, mas todos eles no período de 60, 70 anos, eles estavam ali no Monte Hiei, então todos eles dividiam a ideia de Mappo que é o final, a era que o Dharma vai terminar, a Era da degenerescência do Dharma, todos os quatro difundiam isso. E cada um saiu mais ou menos para um lado.

Todas essas quatro escolas vieram do Tendai, da Escola Tendai Japonesa, e todos os seguidores frequentavam o Monte Hiei, eram Monges Tendai, e todos eles abandonaram Tendai, terminaram saindo cada um para sua escola, que nada mais foi do que cada um pegar algumas práticas que aprenderam no Monte Hiei e se focar nessas práticas. Então, no Monte Hiei você tinha meditação sentada, você tinha leitura do Sutra do Lótus e você tinha recitação do Nembutsu, só que todo mundo fazia tudo.

E cada um deles terminou saindo e pegando pra si. O que que deixa o Shin um pouco destacado dessa história é que Honen e Shinran, os fundadores da Jodô Shu e da Jodô Shinshu, terminam focando-se na época demasiadamente nas classes mais pobres do Japão. Ninchiren também vem fazer isso depois, vem focar nisso depois também, mas Shinran ele tem uma coisa do “budismo das massas”. E ele era um crítico ferrenho do budismo intelectual, do budismo puramente teórico, porque as pessoas não podiam ler, os camponeses, comerciantes, todos eles não liam, eles não sabiam ler, não podiam estudar.

Então eles começaram a ter a audição do Dharma, eles começaram a falar sobre o Dharma para as pessoas entenderem e eles terminavam usando palavras mais simples que não eram palavras tão acadêmicas. Então hoje, muitos dos termos que a gente usa são palavras mais simples, que diferem. Por exemplo, eu falei em shinjin e falei em satori. Se eu falar satori para quem estuda o Zen, sabe o que é, mas shinji é uma coisa mais simples do que satori, mais fácil talvez de entender, porque fala do coração, fala uma coisa mais do sentimento, tal, menos mente. Então, ele tinha um foco maior nas classes menos abastadas. Eu costumo brincar que o Shin é a porta dos fundos do budismo, porque é um budismo para aquele que trabalha, para aquele que não tem tempo. Então, os camponeses estavam lá no campo de arroz e era um budismo que eles podiam ouvir, que eles podiam recitar ali fazendo os trabalhos deles. Então, assim, tem um enfoque mais nessa coisa das classes mais baixas socialmente. Isso vem ser retomado depois por Nichiren que também foca bastante porque ele da mesma forma vem dessas classes mais baixas.

Como a coluna é de meditação, a gente gosta de saber qual é a meditação praticada na escola. Então, eu posso entender que o Nembutsu é um tipo de meditação, é a base da meditação, ou tem outra coisa?

Monge Hondak: Não, não é o caso. Quando a gente fala em meditação, primeiro a gente precisa entender o que é meditação, né? Porque nós ocidentais temos a tendência de nivelar, meditação como alguém sentado, não pensando em nada, que é o estereótipo da meditação. Eu costumo dizer que se você não está pensando em nada, você está morto, né? Então você não é um ser humano. Isso é um estereótipo. E na verdade a meditação, qual é o foco da meditação? Atenção plena. Então, qualquer atividade que você tenha para desenvolver uma atenção plena, é meditação. Sentada, anapanasati, que é você sentar e focar na sua respiração, ou vipasana, que é você focar num objeto externo e fazer suas análises, é uma maneira de você meditar. Na escola, no Jodô Shinshu, a nossa meditação chama-se monpô. Monpô quer dizer, escutar com atenção. Então é escutar o Dharma com atenção. Então, se a gente puder dizer uma meditação, lembra que eu falei que Shinran focava nas pessoas que não sabiam ler? Então ele falava os sutras, ele falava para as pessoas sobre o Dharma. Então, as pessoas paravam e prestavam atenção no que ele estava falando. Então, a nossa meditação monpô é escutar, mas é escutar com o corpo, né? Escutar com atenção, escutar o Dharma com atenção. Então o Monpô (tanto que se você for num rito Shin, o nosso ritual é muito de recitar) a gente recita os sutras para as pessoas ouvirem e depois sempre tem um monge falando, sempre. Por isso que eu falo pra caramba, porque sempre tem um monge falando, né? Porque isso vem dessa tradição Shinran.

Mas não foi ele que inventou esse negócio, não foi ele que inventou isso. O Nembutsu, o Buda Anusmriti ele é um complemento também nessa meditação, porque? Lá no Canon Pali, que são as escrituras do budismo Theravada, e ditas aí as mais antigas, lá num compêndio chamado como Para Nikaya existe uma passagem de um monge que pergunta para Shakyamuni, o Buda Shakyamuni, o que ele deve fazer quando ele não está sentado, meditando sentado, qual era o tipo de meditação que ele poderia fazer quando ele não estava sentado. E o Buda dá a resposta falando Buddhanussati ou Buddhanusmrti, que quer dizer prestar atenção no Buda. Então ele fala assim: monge, se quando você não estiver sentado meditando, medite se lembrando do Tathagata, lembrando do Buda. Então é daí que vem esse método de você lembrar do Buda, do Buddhanusmrti ou do Buddhanussati dependendo da língua. Tem esse outro ponto também, quem acha o budismo Shin estranho, se você voltar lá para trás, lá no Para Nikaya, e se você for no sutra mais importante sobre meditação que tem, é o Satipatana, que é manual de meditação como um todo que o Buda deixou para nós. Aliás, todo mundo que se interessa por meditação deveria ler o Sutra Satipatana. Ele fala sobre a recordação do Buda, também como meio de meditação. Então, quando você tem essa coisa do ouvir o Dharma e recitar o nome do Buda juntos, eles se fundem nesse método de meditação da Escola Shin. Não é essa coisa do sentar formal, do zazen, que tem no budismo Zen e no Chian também ou outros tipos de meditação. Como você pode fazer visualizações, como você pode fazer mandalas, como você pode recitar Daranis, ou recitar mantras, que é das escolas do budismo esotérico.

E vocês tem práticas assim de retiro, para poder fazer essas meditações? Qual que é a importância disso para a escola também?

Monge Hondaku – Sim, nós temos. Para os monges, os monges têm angô também, que nem na Soto Zen, e a gente tem um tipo de retiro que a gente gosta muito, que tá mais alinhado com esse negócio de sentimento de popularidade do Shin, a gente chama Otera Taiken. Otera é Templo Taiken Vivence é a vivência do templo. Os templos coreanos no budismo coreano fazem muito isso também. Otera Taiken é a vivência do dia a dia do templo. Agora infelizmente com a pandemia a gente não conseguiu mais fazer. Mas a gente fazia duas vezes por ano no nosso templo aqui em São Paulo. Se faz isso também no Japão, em alguns outros templos. Então são três dias em que as pessoas ficam no templo e vivem o dia a dia do templo: desde acordar cedinho, até montar o altar, montar as oferendas do altar, fazer as recitações matinais, estudo, limpeza, comida, A mesma coisa Otera Taiken. Espero que a gente possa retornar em breve.

Sim, e antes o senhor falou sobre isso, o que a gente entende por meditação. E às vezes até Genshô Sensei fala que ele não gosta da palavra. Ela na tradução acaba dando uma ideia de uma outra coisa que não é o que a gente realmente faz. O que que o senhor acha dessa palavra, dessa tradução assim?

Monge Hondaku: Eu acho que essa palavra está muito viciada, né? Eu acho que ela tá muito estereotipada, perdeu a essência. Então muita gente vê a gente como caminho e o Buda nunca disse que a meditação é o caminho, ele dizia que a meditação ajudava a apontar o caminho, achar o caminho. E hoje em dia você tem esse estereótipo de que a meditação é tudo, né. Então assim, tudo gira em torno da meditação. A meditação não é a solução do problema de ninguém mesmo porque se você não souber fazer não vai te ajudar em nada, né? É então eu concordo com Genshô sensei, eu acho que esse termo está desgastado demais. Eu prefiro muito mais você ter uma prática de atenção plena, porque aí você resgata o Sati, você resgata o Caminho Óctuplo, você resgata os Venenos Mentais e insere de volta dentro da prática budista algo que tem mais a ver com a prática budista do que você usar um termo do que hoje é usado por qualquer um, para qualquer coisa, desde o Achive Mindfulness até qualquer outra atividade que se faça em termos de bem-estar.

Todo mundo acha que se você sentar dez segundos, um minuto, ali de qualquer jeito, simplesmente vai ficar numa postura de lótus ou coisa resolve tudo, né. Então assim, eu acho que a meditação ela é extremamente importante. Esse foco na atenção plena eu acho que ajuda as pessoas a encontrar o seu caminho, eu acho que os benefícios dessa prática de atenção plena são incontáveis e são mensurados. Se você pegar o Instituto Mind and Life, que é aquele consórcio formado por Harvard, com MIT, a Cornell, que estuda a mente dos monges, estuda a mente no estado de meditação, no estado de contemplação e se vê toda aquela análise de plasticidade do cérebro sendo reconstituída e trazendo grandes benefícios, isso mostra o quanto isso é benéfico.

Uma última pergunta seria: se alguém que estiver lendo esta entrevista, conhecendo um pouquinho mais do Budismo Shin, estiver interessado em praticar, como que seria isso?

Monge Hondaku: Eu acho que, como toda prática budista, você pode começar onde você quiser. Você não precisa ter um templo perto de você, nem um centro de Dharma. É bom de vez em quando você visitar um pra ter aí uma orientação, mas hoje em dia a internet nos ajuda bastante a ter essa comunicação. Aí você vê no Instagram depois e se quiser falar comigo, existem grupos de Whatsapp, podcasts. Se alguém quiser conhecer um pouco mais, eu estou à disposição. E, de novo, eu acho que a pessoa tem que peregrinar, tem que olhar cada um, tem que olhar para várias escolas. Veja as várias linhas e escolha uma escola que mais lhe agrada, o método que mais agrade. Eu acho que isso é importante, mas quem quiser conhecer o Shin estou aqui à disposição.

Monge Hondaku: Ah, eu acho que é bom sempre alertar, que eu gosto, o Genshô Sensei também, (é engraçado falar Genshô, a gente não se trata por Sensei). Eu acho que as pessoas têm que buscar alguma escola budista, mas tomem muito cuidado para não cair em roubada. É, hoje nós temos o que eu chamo de picaretas do Dharma, espalhados aqui pelo ocidente, principalmente aqui no Brasil também. Espero que as pessoas busquem professores qualificados e aí estou à disposição, Genshô, está à disposição Guilherme Yotatsu, Lama Tartchin, Lama Rinchen, todos esses caras são ponta firme e vêm de escolas tradicionais e a gente pode ajudar, mesmo que não seja da nossa escola, a gente pode ajudar as pessoas a encontrar uma escola tradicional, para não cair em roubadas aí. Porque se a gente nunca vai num médico falso para cuidar da nossa saúde física, nós também não devemos buscar mestres falsos pra cuidar da nossa saúde espiritual.

 

Entrevista conduzida por Nathalia Fusô e monge Mushin. Praticantes na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

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