Para nós ocidentais é fácil entender a importância dos templos religiosos, nossa cultura cresceu forjada em bases religiosas que nos cercam de templos para todos os lados. A grandeza e importância da arquitetura religiosa é visível seja qual for a crença. Com o Budismo não é diferente.
O Budismo nasceu intimamente ligado à natureza em seu todo. Buda viveu na floresta, meditando sob as árvores, que foram seu lar ao longo de 49 dias em que esteve em meditação profunda, antes de alcançar o despertar. É lindo pensar que a natureza foi a primeira “casa” de Buda. Nos primeiros tempos de sua iluminação, os discípulos o acompanhavam, vagando entre as cidades para levar o Dharma. Porém, a medida que o número de discípulos cresceu muito em número, um Rei, de nome Bimbisara, propôs a Buda que ele lhe permitisse a construção de um mosteiro, onde os praticantes pudessem se reunir e praticar o Dharma de maneira organizada e protegida de intempéries. Após considerar profundamente a oferta do rei, Buda deu seu consentimento para que os devotos fizessem doações e aceitou a construção do que foi o Mosteiro Jetavana, seguido pelo Bosque dos Bambus e pela Sala de Palestras Mrgara-matr-prasada. Este foi o início da arquitetura budista na Índia.
Tipos e Estilos de Arquitetura Budista
Os templos budistas, assim como os demais templos religiosos são frequentemente o centro das atividades culturais, contêm formas de arte espetaculares e são em si mesmos uma expressão de arte. Como os centros culturais modernos, são a combinação de arquitetura, escultura, pintura e caligrafia; guardam em seu interior, verdadeiros tesouros da história do Budismo.
As primeiras construções erguidas para abrigar relíquias budistas receberam o nome de “Stupa” e surgiram na Índia, logo após a morte de Buddha – derivadas de túmulos já existentes na região – para que abrigassem seus restos mortais. As stupas também começaram a ser construídas na China, quando o Budismo chegou oficialmente àquele país por volta do ano 67 D.C.
No período inicial do Budismo Chinês, as stupas eram as principais estruturas arquitetônicas construídas. As stupas (que mais tarde evoluíram para a forma chamada “pagode”) eram edificações altas, com cume esguio, cujo conceito e forma tiveram origem na Índia e significava o caminho para a iluminação, uma montanha e o universo ao mesmo tempo. A base da stupa representa as pernas cruzadas de Buda, quando se sentava em postura meditativa. A porção do meio é o corpo e o topo do monte representa sua cabeça. Antes das imagens do Buda humano serem criadas, os relevos frequentemente mostravam os praticantes demonstrando devoção a uma estupa.
A arquitetura budista de cada região tem suas próprias características devido a diferentes fatores culturais e ambientais. A arquitetura do Ceilão é semelhante à arquitetura da Índia. Birmânia, Tailândia e Camboja também compartilham um estilo semelhante, com estruturas que incorporam muito o uso da madeira em seu design. As stupas de Java lembram as do Tibete, que são feitas de pedra e representam a Mandala de nove camadas.
No Tibete, além das stupas, grandes mosteiros foram tipicamente construídos em encostas e têm um estilo semelhante à arquitetura europeia, na qual os edifícios são conectados uns aos outros, formando um tipo de arranjo que se assemelha a uma rua.
Os templos budistas na China evoluíram ao longo do tempo passando por várias tipologias distintas. Os tipos mais importantes ao longo da história do Budismo no país foram os templos em estilo de Palácio Imperial e os templos de cavernas.
Os Templos de palácio são comumente construídos no estilo do palácio do imperador, categorizando-os como “arquitetura do palácio”. Este layout é projetado com a simetria em mente, com o portão principal e o salão principal no centro, e outras instalações – incluindo os aposentos – alinhados em ambos os lados. De um lado é colocado um tambor cerimonial e, do outro, um sino cerimonial. Atrás dessa linha simétrica de estruturas, haverá uma pousada para visitantes leigos e o Salão para os monges visitantes residirem durante sua estadia.
Os materiais utilizados na construção das instalações incluem madeira e telha, sendo as telhas pintadas de uma determinada cor, geralmente vermelha, cor que remete ao Império Chinês. Como a madeira é um material difícil de preservar por longos períodos, a China tem poucos templos em “estilo de palácio” que sobreviveram ao longo do tempo. Um dos poucos sobreviventes foi o Templo Fo Guang, construído em madeira durante a Dinastia Tang. A arte requintada da Dinastia Tang, incluindo esculturas, pinturas e murais, ainda hoje é exibida neste templo sobrevivente e nos permite entender que essa época foi um dos pontos altos da expressão artística da China. Este templo tornou-se patrimônio mundial da UNESCO.
Um dos elos mais importantes entre a história da arte e da arquitetura chinesa pode ser visto nas cavernas rochosas, ou templo da caverna, e toda a arte contida nela. Os templos das cavernas são cavidades de vários tamanhos esculpidas diretamente na rocha, às vezes diretamente na face de grandes penhascos. Muitos são enormes. Dentro das cavernas rochosas, há estátuas esculpidas com ornamentos, esculturas e pinturas coloridas de Buda, bodhisattvas, arhats e sutras que impressionam pela exuberância. A construção das cavernas tem início por volta do ano 366 pelo monge Le Zun e continuou até o século XV. Em muitos lugares, podemos ver encostas inteiras decoradas com inúmeros templos esculpidos em rocha, juntamente com gigantescas estátuas. Entre esses templos, um dos mais famosos é o Templo de Dung Huang, famoso pela riqueza impressionante de um mural grandioso e esplendoroso.
A evolução da arquitetura dos templos em cavernas ocorreu ao longo de muitos anos, abrangendo várias dinastias e, por serem esculpidos em rochas, nos dão testemunho até os dias atuais da maravilha do que foi o florescimento do budismo na China. São verdadeiras relíquias, que impressionam visitantes, arqueólogos e praticantes budistas, pois são capazes de transmitir a riqueza dos ensinamentos através da arte.
Templos Modernos
A arquitetura religiosa se desenvolveu em todo o mundo com a finalidade de criar um ambiente onde o homem tivesse contato com sua consciência, introspecção e ensinamentos. Com o Budismo foi, e é, a mesma coisa. Com a evolução dos mosteiros, stupas, ou templos de cavernas, chegamos aos dias atuais com a mesma riqueza de tempos anteriores, porém, com objetivos diferentes. No passado, os templos eram o centro das comunidades budistas, local para as reuniões e para a transmissão dos ensinamentos, bem como, casa para os monges. Hoje em dia, ir a um templo é opcional, pois os praticantes podem ter acesso ao Dharma de Buda sem nunca ter pisado em um templo budista. Com a tecnologia, podemos trazer o templo para dentro de nossas casas.
Portanto, as edificações budistas modernas devem dialogar com o praticante moderno, e atraí-lo para o espaço.
Inspirados no simbolismo e nas práticas espirituais, os projetos são conceitualmente organizados em sua maioria, em torno da natureza e da sequência dos espaços. Construídos com grande cuidado ao detalhamento, às escolhas dos materiais, e à implantação da edificação, os projetos manifestam os conceitos budistas através de suas fachadas e da interação dos sentidos de quem adentra a edificação. Tudo isso, dialogando com a linguagem dos novos tempos, muitas vezes sendo implantados nos centros de grandes cidades, utilizando materiais de alta tecnologia, não sendo diferente das demais obras de arquitetura e engenharia.
Assim, seja nos primórdios das primeiras construções na Índia, ou na beleza e tecnologia presentes nos templos modernos, todos eles sempre tiveram a mesma finalidade: espalhar e ao mesmo tempo guardar o Dharma de Buda.
Texto de Ana Maria Rangel. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
Fontes:
Livro: “Building Connections: Buddhism & Architecture” published by Buddha’s Light International Association, Hacienda Heights, USA.
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