Penso que a desistência na forma de se fazer arte, para um budista, é fundamental. Desistir de tudo que é ego, de tudo que é ilusório, de todas pretensões. Esse desafio pode parecer simples, mas não é. Normalmente buscamos a arte para nos expressarmos, para sermos compreendidos. Nesse sentido, acabamos levando tudo muito para a expressão desse ’’EU’’ enraizado em nossas entranhas, esse ’’EU’’ desconectado do todo, separado.
Nesse ponto que a desistência se torna fundamental e difícil. Muitas vezes a força motriz da arte é o ego, no entanto, precisamos desistir dele, mas não só dele. Precisamos desistir dessa necessidade de ver a felicidade no reconhecimento que a arte pode trazer para o autor, precisamos desistir de tentar forçar com que as coisas aconteçam e que seu talento seja reconhecido.
Quando começamos a praticar a desistência o ato de fazer arte se torna mais prazeroso e menos doloroso. A arte está ali para ajudar você a estar presente naquele momento, nada mais. Libertar-se dessas amarras para sentir o prazer de aprender, praticar e compartilhar arte.
A desistência real pode trazer um maior significado para a vida. Eu estou longe de conseguir tal feito, mas vislumbro imensa alegria ao perceber esse real sentido, e por isso, compartilho essa reflexão.
Depoimento de Manoel Siqueira. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.