Somos Apenas Um

 

 Algo que posso garantir a qualquer pessoa é que toda semana recebo algum paciente que quer se livrar do conteúdo emocional que sente. Uns querem deixar de ser ansiosos, outros não querem mais sentir melancolia, tristeza e todos os sentimentos que usualmente categorizamos como ruins. Essa intenção não é uma má intenção, mas com certeza é uma concepção equivocada sobre a natureza da vida, a natureza instável.

Durante a nossa vida aprendemos a categorizar e a classificar dimensões de nós mesmos. Olhamos para uma emoção e dizemos “isso é tristeza”, e a partir do momento que fazemos essa consideração estamos nos desconectando delas. A mente que separa, organiza e categoriza é muito útil em várias situações da vida, mas tem um efeito muito poderoso de nos desconectar da nossa verdadeira experiência.

Somos seres extremamente divididos pela mente que enxerga somente a dualidade, um exemplo disso é a dicotomia entre mente e corpo. Aprendemos, desde criança, que o que acontece na mente é uma coisa e o que acontece fora dela é outra coisa. E quando existe um muro entre a mente e o corpo começamos a ter vários problemas. Na verdade, a concepção mais apropriada é a de que mente e corpo são um só, não são realidades separadas e divididas, quem divide somos nós mesmos, o que nos torna cada vez mais indivíduos fragmentados.

O nosso corpo é um reflexo da nossa mente, isso ninguém costuma negar. Mas o caminho contrário também existe e essa realidade as pessoas têm dificuldade de aceitar. Nossas ações também moldam a nossa mente e no Budismo vemos isso acontecer o tempo todo. Praticamos meditação, trabalho com atenção com nosso corpo para mudar nossa mente para uma mente que busca a paz, a harmonia.

Você já parou para analisar como tem cuidado da sua mente através das suas ações, escolhas, atitudes? Na nossa mente existe todo tipo de semente e são nossas escolhas e ações que cultivam ou não essas sementes. Pessoas como ditadores e torturadores nasceram com as mesmas capacidades que todos nós, são humanos como cada um de nós. O que muda é como cuidamos da nossa mente, e esse cuidado só é possível através de ações que nos guiam para onde queremos ir.

 

Texto de Renato Oliveira, psicólogo e terapeuta clínico. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

 

Pin It on Pinterest

Share This