A Música e o Dharma: Como Uma Onda (Zen-surfismo)

Aos que amam a música, incluindo, a música popular brasileira, sem dúvidas já devem ter ouvido em dado momento de suas vidas a música de Lulu Santos “Como Uma Onda (Zen Surfismo)”, seja na rádio,TV, ou nos aplicativos de streaming. Essa música que, cantada a plenos pulmões, nem sempre é compreendida, tendo uma mensagem grandiosa e ensinamentos impressionantes do Zen Budismo, como aludido em seu próprio título; para deixar bem claro, a colocarei abaixo por partes, tecendo algumas análises acerca dessa letra dhármica:

“Nada do que foi será

De novo do jeito que já foi um dia

Tudo passa, tudo sempre passará”

 

Aqui, a princípio, nota-se acerca da constatação feita por Shakyamuni Buddha, de que a vida é impermanente, e por essa razão, não haverá estabilidade em momento algum, e de que todos os momentos são totalmente novos, não importando o grau e relevância de seus acontecimentos, eles sempre irão passar, são efêmeros, e por esta razão apegar-se a eles gerará maior sofrimento.

“A vida vem em ondas

Com um mar

Num indo e vindo infinito”

 

Deste modo, a símile das ondas é feita com bastante excelência nesse pequeno parágrafo. No Zen Budismo, faz-se uso de analogias que elucidam-nos sobre temas bastante profundos, tais como o karma. Salientando-nos de que somos ondas kármicas no mar da vacuidade, como ensina Monge Genshō, não havendo um “eu” inerente que irá existir por toda a eternidade, mas de que em dado momento irá sucumbir, podendo gerar mais ondas de energia no universo, que por fim, irá gerar outra identidades. Afinal de contas, karma em sanscrito significa literalmente “ação”, e se não despertamos do sonho da individualidade, estaremos fadados em voltarmos infindáveis vezes.

“Tudo que se vê não é

Igual ao que a gente viu há um segundo

Tudo muda o tempo todo no mundo”

 

Se a impermanência (Anicca) e a insatisfatoriedade (Dukha) são marcas de nossa existência, significa que estão intrinsecamente relacionadas no modo pelo qual agimos no mundo, sobretudo, num mundo contingente em que as coisas derramam-se por entre nossos dedos, e não conseguimos reter nada. Dessa forma, o que vemos, está maculado pelas nossas inclinações e preferências, que perfazem o nosso “eu”, sendo necessário gradativamente, trocarmos nossos olhos pelos os de Buddha, praticando com seriedade.

“Não adianta fugir

Nem mentir

Pra si mesmo agora

Há tanta vida lá fora

Aqui dentro sempre

Como uma onda no mar

Como uma onda no mar

Como uma onda no mar

Como uma onda no”

 

Por fim, a mensagem final nos passa decididamente o alvitre de que não adianta ranger os dentes, refutar as coisas como são, ou conjecturar de como deveriam ser. Tudo terá seu desfecho, quer tenha nossa anuência, quer não. A vida não será suprimida com nossa morte, somos parte dela, somos a sua manifestação mais bela, assim como as ondas são o mar.

 

Texto de José Soares. Praticante da Daissen Ji. Escola Soto Zen

 

 

Referências:

Lulu Santos. Como uma Onda (Zen Surfismo). Rio de Janeiro: Warner Bros. Records, 1983.  Disponível em:

https://open.spotify.com/album/404H4FNKYVOGzzXCT9GLD7?si=BLeuekKNTIiNBs v0ozr0yA&utm_source=copy-link Acesso em 30 nov. 2021.

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