Difícil tarefa falar sobre o Tibete em um curto espaço de tempo, tendo em vista uma longa história de suas relações com as mais diversas nações tanto orientais quanto ocidentais. Relações estas que variavam entre alianças, conflitos de interesses, comércio, trocas culturais, etc.
Localizado ao sudoeste da China, o Tibete está cercado por vários países das mais diferentes culturas, como a Índia e o Nepal, entre outros, que apresentam variados sistemas políticos e religiosos, indo do Hinduísmo ao Comunismo Chinês.
Com uma extensão de 1.221.600 km2, está situado em um grande planalto, com altitudes médias de 5 mil metros; tem ao seu redor a cordilheira do Himalaia e é atravessado por vários rios importantes, como o Indo e o rio Amarelo. Na vegetação, a estepe domina, possui uma variedade de plantas usadas na medicina chinesa. As condições climáticas limitam a agricultura ao sul do território principalmente à plantação de arroz. Já na pecuária apresentam-se grandes rebanhos de ovelhas, iaques e cavalos. Seu subsolo possui riquezas como o ferro e o carvão.
Historicamente sua origem construiu-se a partir de uma antiga dinastia militar. Desde o século VII, formou-se um Império pacífico guiado pelos preceitos religiosos budistas. O principal cargo político tibetano era ocupado por um Dalai Lama, que acumulava funções religiosas e políticas.
Ocorreram diversas disputas territoriais com variadas etnias, mas somente com a Revolução Chinesa, de 1949, que os conflitos atuais envolvendo a região iniciaram-se. Com a instalação do movimento liderado por Mao Tsé-Tung, a China buscou reorganizar os costumes e tradições tibetanas em favor dos princípios ideológicos do governo chinês, alegando pelo menos quatro motivos:
- Econômico: pelas riquezas naturais do país;
- Político: libertar o Tibete da influência britânica;
- Cultural: pela reforma dos costumes, inclusive com o argumento civilizacional;
- Estratégico: vendo o Tibete como um ponto de defesa contra possíveis invasões, inclusive com o posicionamento de misseis nucleares intercontinentais e instalações do exército chinês.
Há um grande medo por parte da China que uma possível independência do Tibete possa iniciar um movimento maior de independência por parte de outros territórios das diversas etnias que compõe o Estado Chinês.
A linha do tempo a seguir permite-nos visualizar um quadro mais amplo:
1951 – O Tibete é anexado pela República Popular da China.
1959 – Em meio a uma revolta popular anti-chinesa, o 14º Dalai-Lama foge para a Índia.
1965 – O país torna-se região autónoma da China.
1987 e 1989 – Tropas chinesas agem violentamente contra as manifestações contrárias ao controle chinês.
Em agosto de 1993 iniciam-se conversações entre representantes do Dalai Lama e os chineses, mas sem resultados. Mesmo com a proposta do Dalai Lama de reconhecer a soberania do Estado Chinês no território tibetano, contanto que fosse preservada e reconhecida uma cultura tibetana autônoma.
Atualmente, o Tibete vive em um enfretamento de perspectivas opostas: de um lado, o Estado Chinês alegando sua invasão motivada pela implantação de um processo civilizatório libertador, que beneficiou os tibetanos trazendo modernidade e progresso; do outro lado, os tibetanos sentem a ameaça da intervenção política chinesa na desconstrução de suas tradições religiosas e na restrição de liberdades individuais.
Quando pensamos no que Shakyamuni Buda ensinou em relação aos três venenos da mente, (ganância, raiva e ignorância), poderemos observar que todos os conflitos, do mais simples ao mais complexo, estão mergulhados nesses venenos que perturbam as mentes, impossibilitam o diálogo e a solução de divergências. A ganância, por exemplo, dá-nos a ideia de querer vencer o debate, ganhar a luta ou dominar o outro seja mais importante que viver em harmonia e cooperação; a raiva, por sua vez, turva a mente como uma poça de água límpida, enlameia-se ao ser revolvida, impossibilitando-nos de ver claramente o problema, a solução e mesmo o outro, que supostamente torna-se nosso inimigo, apenas por pensar diferente de nós e, por fim, a ignorância de não percebermos que fronteiras, países, nacionalidades ou mesmo o atrasado conceito de raça são apenas palavras, meras palavras, ilusões de individualização. A não percepção de que todos estamos interligados, que somos todos a mesma vida na Terra, faz-nos lutar uns contra os outros por não conseguirmos perceber que somos a maravilhosa manifestação do todo. Buscar o despertar é desconstruir as ilusões e crenças que possam separar-nos, que impeçam a gentileza na fala, na mente e nas ações, mesmo nas divergências, pois sem isso, perdemo-nos em conflitos que só reforçam as identidades ilusórias do nosso ego.
Texto elaborado pela equipe da coluna História e Sociedade.