A maioria das religiões é permeada por divindades. Essas divindades, independentemente de sua forma, espécie ou personalidade, têm como principal função oferecer amparo àqueles que as procuram. Assim, é comum que as pessoas busquem as religiões para pedir auxílio a essas divindades, acalento nos momentos de dor, respostas para suas dúvidas e uma mão para guiá-las até seus destinos. É quase um sentimento maternal ou paternal, uma esperança de que algo ou alguém oferecerá as respostas necessárias. Isso pode ser um pouco decepcionante para aqueles que encontram o budismo e percebem que Buda não é uma divindade.
Não há orações para Buda, não há como chamá-lo para resolver nossas questões, não há preces, não há nada. O mais interessante em tudo isso, digo por experiência, é o sentimento de desorientação no início: mas, como assim? A quem devo chamar então? No entanto, quando você descobre que Buda deixou todos os ensinamentos necessários, tudo começa a ficar um pouco mais claro. Mas, por favor, não o chame, não irá funcionar. Buda foi um ser humano como nós, tinha as mesmas angústias e sofrimentos que nós, e decidiu renunciar sua vida de príncipe para investigar a verdadeira natureza do sofrimento. Assim, durante suas práticas de meditação, renúncias e muito estudo, ele nos forneceu seus ensinamentos: o Dharma de Buda.
O Dharma é o caminho orientado por Buda para que as pessoas vivam com mais equilíbrio e harmonia. Para isso, Buda ensina o caminho do meio, pois não há como viver uma vida inteira de renúncias ou excessos. É preciso cuidar de nós mesmos e das coisas ao nosso redor com amor e compaixão, na medida certa. Então, é necessário ter uma compreensão correta, uma fala e visão corretas, esforço e atenção corretos para vermos as coisas como elas são, sem excessos e, principalmente, sem ilusões. E para que possamos treinar isso, é necessário praticar o Zazen, uma prática de meditação sentada em que repousamos a nossa mente e a treinamos para desapegar do passado e do futuro, focando apenas no momento presente, no agora. Fazendo isso, conseguimos treinar a nossa mente e o nosso corpo para encontrar o equilíbrio.
Claro que, você pode achar que tudo isso seria um pouco mais simples se Buda fosse uma divindade, com orações e preces para nos agarrarmos e esperarmos por uma intervenção. Mas não é assim. Para enxergar as coisas como elas são e viver em harmonia, o esforço é totalmente nosso. Não há o que fazer além de praticar os ensinamentos durante a nossa vida cotidiana e colher os frutos das boas ações. A prática pode ser um pouco solitária, mas se torna muito mais fácil e prazerosa quando realizada com os nossos companheiros, a Sangha, que é a comunidade budista. Por fim, o budismo nos desafia a tomar responsabilidade por nosso próprio crescimento espiritual, sem a dependência de um ser divino para nos guiar ou salvar. Através da prática diligente e da convivência com a Sangha, podemos encontrar o equilíbrio e a paz interior que buscamos. E assim, passo a passo, vamos descobrindo que as respostas que procuramos sempre estiveram dentro de nós.
Por Isabela Santos, Daissen Ji, Soto Zen